Título: BC se apoia na crise
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Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2011, Economia, p. 18

Governantes e investidores podem se preparar para um severo aprofundamento na crise econômica global, no que depender das projeções do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. O chefe da autoridade monetária reforçou ontem suas apostas na desaceleração na atividade internacional como um dos principais fatores de controle da inflação brasileira. À platéia presente em um evento do setor imobiliário, o técnico afirmou que os próximos passos da política monetária, determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), dependerão do desenrolar da conjuntura externa.

Novamente, ao explicar a decisão tomada pelo colegiado na última reunião, que reduziu inesperadamente a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual para 12% ao ano, Tombini ressaltou que o trabalho do Banco Central está concentrado na meta central (de 4,5%) de 2012. O esforço de reverter a inflação deste ano a, pelo menos, o teto de 6,5% da política monetária, ficará a cargo da desaceleração da atividade econômica.

Arrefecimento Para ele, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ¿ acumulado em 7,23% nos últimos 12 meses ¿ atingiu o seu pico em agosto e cairá dois pontos percentuais até abril do ano que vem. "A política do Banco Central continuará sendo ajustada no futuro diante do quadro internacional. Tomaremos as próximas decisões dentro do nosso objetivo de trazer a inflação para a meta no final de 2012", garantiu.

Os ventos favoráveis à redução da pressão sobre os preços serão garantidos pelo desempenho de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, os países da Zona do Euro e o Japão. Esses mercados, segundo Tombini, deverão experimentar um período mais longo de recuperação, com baixo crescimento, nos próximos anos. O tímido avanço se refletirá no Brasil pela baixa procura de produtos tradicionalmente comprados por esses parceiros, como as commodities (itens básicos com cotação internacional) e pelo menor volume de negócios.

Casa arrumada Tombini voltou a dizer que a economia brasileira já apresenta sinais claros de desaceleração, suficientes para justificarem o corte realizado. Segundo o próprio presidente, a ação teve o intuito de evitar uma parada muito violenta na atividade doméstica, como a observada em alguns setores emblemáticos da indústria nacional, como o automobilístico. Além das restrições ao desenvolvimento do crédito, o segmento enfrentava até o início da semana a forte concorrência dos importados.

E, embora se sintam menos confiantes no arrefecimento da economia, os analistas de mercado já contabilizam novos cortes na Selic. O cenário já foi captado pelo Boletim Focus, projeção feita pelo BC com instituições do mercado. Desde a redução dos juros, as estimativas para o IPCA em dezembro dispararam.

Em defesa da atuação do Copom, Tombini lembrou que a coordenação entre a política monetária de corte de juros e a política fiscal de controle da gastança pública tem que funcionar, para garantir o controle da carestia. Cobrou, de forma velada, a promessa feita pelo restante da equipe econômica de segurar os gastos e ponderou que uma situação "mais arrumada" permitirá novos cortes na Selic. "Nossa política leva em consideração o resultado do que já foi feito e a condição das demais políticas. Por exemplo, a política fiscal mais rigorosa. A situação fiscal bem arrumada permitirá redução de custos e política monetária mais favorável (à queda da taxa)", ponderou.