Título: Medo de uma catástrofe
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Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2011, Economia, p. 20

Secretário do Tesouro dos Estados Unidos pressiona europeus a aumentar fundo de resgate para evitar moratórias em série

Breslavia, Polônia ¿ O secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, pressionou ontem autoridades da Zona do Euro a ampliar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), criado para resgatar países em dificuldades, alertando para o risco "catastrófico" de acontecerem moratórias "em cascata" no continente. Ele rejeitou fortemente, no entanto, a proposta apresentada pelos governos da França e da Alemanha de taxar as transações financeiras para levantar recursos com essa finalidade.

Convidado a participar de um encontro de ministros europeus de Finanças para examinar formas de agilizar a implementação de medidas acertadas pelos líderes regionais em 21 de julho, Geithner, entretanto, encontrou resistência de seus colegas do outro lado do Atlântico.

"Teremos de fato que disponibilizar mais dinheiro para estabilizar os setores financeiro e bancário e ao mesmo tempo aumentar a adoção do Fundo Europeu", disse a ministra austríaca de Finanças, Maria Fekter, após os debates. "Mas eu acho peculiar que, embora os norte-americanos tenham indicadores significativamente piores que a Zona do Euro, eles venham nos dizer o que deve ser feito e, quando fazem uma sugestão, não vão direto ao assunto", acrescentou.

Segundo Fekter, os participantes da reunião discordaram principalmente sobre como a Europa deve buscar mais dinheiro para enfrentar a crise. Quando o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaueble, defendeu que a única maneira de obter recursos seria por meio de um imposto sobre transações financeiras, Geithner rejeitou totalmente a ideia. O ministro alemão tentou convencer Geithner, mas sem sucesso, contou Fekter à imprensa. O FEEF dispõe atualmente de 440 bilhões de euros, volume considerado insuficiente para atender todos os países que enfrentam dificuldades para refinanciar suas dívidas.

A presença do secretário norte-americano no encontro foi uma demonstração da preocupação dos Estados Unidos com os problemas da dívida da Europa. Pouco antes da reunião, ele declarou que estava inquieto com o "conflito entre os governos e o Banco Central Europeu (BCE)", numa alusão às críticas que a autoridade monetária europeia vem recebendo de países como a Alemanha pela política de compra de títulos de nações fragilizadas, como a Itália e a Espanha.

"Todos devem trabalhar de forma conjunta com o objetivo de evitar riscos catastróficos para os mercados financeiros", disse ele, prometendo ajuda do governo norte-americano à Europa. "É preciso evitar a ameaça de moratórias em cascata dos países da Zona do Euro", afirmou.

Apesar da tensão nas discussões internas, no fim as autoridades preferiram salientar que EUA e Europa estão dispostos a agir de forma conjunta para enfrentar a crise. "Estamos determinados a dar uma resposta internacional forte e coordenada para enfrentar esses desafios. Agimos firmemente para manter a estabilidade financeira, restabelecer a confiança e incentivar o crescimento", disse o chefe dos ministros de Economia dos países que adotam a moeda comum, Jean-Claude Junker.

Segundo uma fonte europeia, a proposta de Geithner de alavancar o Feef não foi nem rejeitada nem endossada. "Ela está em discussão", afirmou, enfatizando que a prioridade é ratificar os poderes do fundo, definidos em julho, permitindo empréstimos a países frágeis e a compra de títulos soberanos no mercado.

Pressão negada Em nota divulgada ontem no final da tarde, o Departamento do Tesouro norte-americano procurou contornar o mal-estar provocado pelas declarações de Timothy Geithner entre países europeus. Segundo o comunicado, ele não pressionou seus colegas europeus a adotar esta ou aquela medida para enfrentar a crise da dívida. "O secretário Geithner pediu a seus colegas europeus para que atuem de forma decisiva e com uma só voz. Não defendeu nem se opôs a nenhuma política específica", afirma o documento.