Título: JK no exílio
Autor: Gorgulho, Silvestre
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2011, Opinião, p. 23

Jornalista, foi secretário de Estado de Cultura de Brasília

Amanhã termina a Semana JK com o lançamento do filme JK no exílio. No último dia 12, Juscelino Kubitschek de Oliveira faria 109 anos. O Brasil tem uma dívida para com o ex-presidente da República, o construtor de sonhos. Mas o Brasil é assim mesmo. O homem que redescobriu o Brasil; que em cinco anos cumpriu todas as suas 31 metas da campanha de candidato a presidente da República; que plantou a modernidade; que construiu Brasília, e ao construir a nova capital ocupou um Centro-Oeste vazio e esquecido; que foi símbolo de democrata ao conviver com revoltas, críticas e perseguições; e que governou com extrema magnanimidade, foi humilhado, cassado e exilado. Mais: foi difamado como detentor da sétima fortuna do mundo, riqueza conseguida, evidentemente, nos tempos de governo.

Juscelino Kubitschek não merecia tanta injustiça. Mas sua grande popularidade e sua pretensão de voltar à Presidência em 1965 (JK 65) impuseram-lhe uma perseguição implacável. Aqui no Brasil e no exílio. Por isso, relembrar e resgatar um pouco das histórias e dos sofrimentos pelos quais passaram JK é também um exercício de democracia, uma lição de vida e, sempre, mais uma homenagem ao maior dos presidentes da República do Brasil.

Na época do exílio, muita gente poderia até pensar em um Juscelino curtindo as benesses culturais da Cidade Luz. Afinal, a "sétima fortuna do mundo" estava em Paris... Mas, não! JK era um peixe vivo vivendo fora d"água fria...

Na juventude, Juscelino viveu na França como estudante. No fim da década de 1960, viveu em Paris na condição de exilado e perseguido. O documentário mostra um JK vigiado e espionado. Para alguns, pelo governo francês do general Charles De Gaulle. Para outros, pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), com agentes brasileiros travestidos de franceses. O histórico de liberdade e de acolhimento a exilados e perseguidos pela França me permitem ficar com a segunda hipótese.

Duas coisas tornavam a vida de JK em Paris muito difícil: a precariedade das condições materiais e a fortíssima saudade da pátria. JK chegou a pensar em tirar a própria vida. É o que mostra JK no exílio, de Bertand Tesson e Charles Cesconetto, idealizado por Carlos Alberto Maciel. O filme, oportuno e importante, é brasilidade na veia. Um documentário de 52 minutos que vai proporcionar uma viagem no tempo. O filme foi mostrado pela primeira vez em 10 de setembro, em Diamantina, dentro da Semana JK, quando se comemorou mais um aniversário do presidente. E, neste 18 de setembro, será lançado nacionalmente em Brasília, às 19h, no auditório do Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios.

O sofrimento do ex-presidente começou em 8 de junho de 1964, quando foi cassado seu mandato de senador por Goiás. Em 13 de junho, JK partiu para o exílio com uma declaração forte: "Deixo o Brasil porque esta é a melhor forma de exprimir meu protesto contra a violência política e moral". E durante mil dias ficou exilado, vivendo em Paris, Lisboa e Nova York.

Em Paris, tinha uma cozinheira que não deixava esquecer suas origens: dona Diamantina. Mas mesmo tendo Diamantina tão perto, não se sentia nada feliz e muito menos à vontade: "Não posso deixar de confessar que viver fora do meu país, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem que só pensava no Brasil", escreveu JK.

O filme de Bertand Tesson e Charles Cesconetto tem depoimentos emocionantes, como os de Affonso Heliodoro, Arnaldo Niskier, Carlos Heitor Cony, Carlos Murilo, Ivo Pitanguy, Maria Alice Gomes Berengas, Maria Estela Kubitschek Lopes, Murilo Melo Filho, Oscar Niemeyer, Rodrigo "Lucas" Lopes e Ronaldo Costa Couto.

Ao ver o filme, lembrei-me muito de uma frase de Tancredo Neves quando discursou na Câmara numa homenagem a JK depois da morte dele: "O exílio é o preço que os grandes homens pagam para conseguir um lugar no coração do povo. Eles são supliciados, antes de serem glorificados. Mas o exílio realmente glorifica. Não há grande homem que não o tenha conhecido".

E JK ¿ o magnânimo, o audacioso, o seresteiro e o construtor de sonhos ¿ teve que passar pela provação do exílio, antes de virar um presidente nacionalmente admirado, exaltado e imitado como político do bem. O Brasil é assim mesmo!