Correio Braziliense, n. 19.117, 28/09/2015. Política, p.3

Cortes na Defesa no centro do debate

Enquanto parlamentares independentes e de oposição reforçaram as declarações do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, sobre os cortes no orçamento dos projetos de defesa, integrantes do governo defenderam o discurso equilibrado no militar. Em entrevista ao Correio ontem, o chefe de 217 mil militares afirmou que, atualmente, a falta de recursos para ações definidas ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva coloca empreendimentos em risco de “retroceder 30, 40 anos” em meio a um cenário de crise e ajuste fiscal.

De acordo com o relator do estudo da indústria de defesa na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), a situação financeira do país não pode ser apontada como única culpada pela redução dos projetos. Ele afirmou que a falta de dinheiro é antiga. “Em 2012, 2013, 2014 já tínhamos problemas de desenvolvimento na área de defesa. “O governo projetou, planejou e se tornou obra de ficção”, criticou Ferraço.

O senador pretende concluir um diagnóstico da crise financeira nas Forças Armadas até o fim de novembro. Ele disse que é preciso saber “o tamanho e a profundidade da crise, do rombo e do prejuízo que a desorganização do governo está causando às forças e à base industrial de defesa”. Com o estudo em mãos, Ferraço entende que é possível sugerir ao Ministério da Defesa quais projetos devem ser paralisados a fim de serem executados outros com possibilidades de serem concluídos.

O ministro da Defesa, Jaques Wagner, por meio da assessoria, lembrou que o próprio Villas Bôas destacou o esforço da pasta e da equipe econômica em preservar parte do orçamento militar pós-ajuste. Wagner afirmou ainda que a redução das despesas foi acertada em conjunto com as três Forças e com todo o governo federal. “Os projetos estratégicos foram desacelerados, mas não paralisados, para não evitar danos no futuro”, disse a assessoria ao jornal. Entre os empreendimentos estratégicos em ritmo mais lento, estão os submarinos, a compra dos caças Gripen e o tanque blindado Guarani.

O senador Ricardo Ferraço entende que, de imediato, antevê alguns projetos prioritários. Um deles é o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), relatado pelo general Villas Bôas na entrevista ao Correio. Segundo Ferraço, o volume maior dos investimentos se justifica porque o mecanismo servirá para o combate à violência nas cidades. “Em vez de lutar contra o tráfico de drogas na cidade, eu vou direto na fronteira”, destacou. Outro projeto é a construção de um submarino nuclear e quatro convencionais da Marinha, tendo em vista que já foram feitos investimentos em transferência de tecnologia e treinamento de pessoal na França, o que não pode ser desperdiçado. Por último, ele entende que deve ser concluído o avião de transporte militar KC-390, da Embraer.

Estratégicos
O deputado e ex-ministro Afonso Florence (PT-BA) disse que a conjuntura econômica tende a melhorar a fim de serem retomados os investimentos na defesa. Ele destacou medidas do governo de Dilma Rousseff enviadas ao Congresso para melhorar a arrecadação, como a criação de impostos, com a CPMF, a taxação de móveis e bens de capital e a sobretaxa em bancos. Para Florence, há uma perspectiva de redução da inflação e de melhora na balança comercial. “Não dá para marcar uma data, mas com certeza vamos ter um quadrimestre menos negativo do que o previsto há dois meses”, disse o deputado. “E temos ainda três anos de governo.” Para o deputado, o tempo não vai atrapalhar os investimentos nas Forças.

Ao contrário, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), o governo está “totalmente perdido” após uma série de erros econômicos, desperdícios, fisiologismo com troca de cargos por apoio e corrupção. “Essa questão das fronteiras é fundamental, e o país não pode deixar de lado”, afirmou Bueno. “A área precisa de regularidade nos repasses do começo ao fim. Mas, para o PT, só tem um projeto, o de se manter no poder de forma criminosa.”