Receita pede devassa sobre filho de Lula

 

JAILTON DE CARVALHO

O globo, n. 30033, 29//10/2015. País, p. 6

 

Depois de ter suas empresas vasculhadas pela Polícia Federal na Operação Zelotes, Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também pode virar alvo de mais um órgão do governo. A Receita Federal enviou à Justiça Federal um relatório em que sugere a quebra de sigilo fiscal e bancário de empresas de Luis Claudio. O Ministério Público ainda não se pronunciou sobre o pedido.

O relatório da Receita pede a quebra de sigilo de 21 empresas e 28 pessoas, no período de 2008 a 2015. O caso foi revelado pelos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S.Paulo”. Entre os alvos da quebra de sigilo estão a LFT Marketing Esportivo e a Touchdown Promoção de Eventos Esportivos, de Luis Claudio. De acordo com o relatório da PF no inquérito da Operação Zelotes, a LFT recebeu cerca de R$ 2,4 milhões da empresa de fachada Marcondes & Mautoni Empreendimentos. Apenas em 2014 foram R$ 1,5 milhão. A Marcondes & Matouni é acusada de intermediar pagamento de propinas para edição de medidas provisórias de interesse de empresas fabricantes de veículos.

“Tal constatação [...] aduz ao questionamento sobre que tipo de serviço foi prestado pela LFT à Marconi & Mautoni que motivou pagamento de tão grande quantia”, diz o relatório da Receita.

AUDITORES MIRAM EM EX-MINISTRO

A Receita também incluiu na lista enviada à Justiça um restaurante da filha do ex-ministro Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete de Lula. Os auditores querem que as contas de Gilberto e de parentes dele sejam investigadas.

O MPF pediu a busca e apreensão nas empresas do filho de Lula por achar a movimentação financeira estranha. A juíza Célia Fernandes, da 10ª Vara Federal de Brasília, concordou com a suspeita levantada pelo MPF. “Tem razão o MPF ao afirmar ser muito suspeito uma empresa de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contratos com a administração pública (Marcondes & Mautoni)”.

Além da LFT, foram autorizadas buscas da PF nas empresas Touchdown Promoção de Eventos e Silva Cassaro Corretora de Seguros. Esta última também têm o filho de Lula como sócio.

Em nota divulgada ontem, o advogado de Luis Claudio, Cristiano Zanin Martins, disse que irá protocolar hoje, junto ao Tribunal Regional Federal de Brasília, medida judicial questionando “manifestas ilegalidades” na decisão que autorizou a busca e apreensão ocorrida nas empresas. “O fundamento usado pela juíza para autorizar a medida extrema é precário e inconsistente, apenas repetindo uma especulação do Ministério Público Federal”.

No caso de Gilberto Carvalho, a investigação levantou a suspeita de que ele teria agido em “conluio” com os lobistas para a edição das medidas provisórias questionadas. Nas anotações do lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, preso segunda-feira pela PF, há o registro da existência de uma reunião com Gilberto. Consta ainda nos autos um e-mail enviado por Mauro Marcondes Machado, da Marcondes & Matouni, pedindo ajuda ao então chefe de gabinete de Lula para que uma carta da Scania fosse entregue ao então presidente. Carvalho negou envolvimento em irregularidades para a edição das MPs.

Fernando César Mesquita, ex-diretor do Senado, acusado de receber propina para defender interesses de lobistas no Congresso, divulgou texto negando envolvimento em irregularidades e dizendo que é amigo de APS há 30 anos.

 

Receita pede devassa sobre filho de Lula

 

FERNANDA KRAKOVICS 

 

Para o presidente do PT, Rui Falcão, Luis Claudio Lula da Silva é peixe pequeno no esquema investigado pela Operação Zelotes, e o Ministério Público e a PF estão deixando de lado “um monte de tubarão” ao ir atrás dele.

— Foi uma arbitrariedade, porque, ao que me consta, a Operação Zelotes envolve bilhões e grandes grupos empresariais. A única busca e apreensão para valer que vimos foi na empresa do filho do Lula, por uma coisa transversa, de que teria participado da venda de uma medida provisória, sem comprovação. Tem um monte de tubarão e você vai correr atrás de um peixinho, e sequer tem provas contra ele — disse Falcão.

Em 2007, ao defender seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, alvo da Operação XequeMate, Lula disse que a PF procurava “um cardume de pintados”, mas pescou um “lambari”. Gravações indicavam que Vavá tinha feito lobby para empresas e donos de caça-níqueis.

— Qual é o processo todo? A PF pede a quebra do sigilo telefônico de uma pessoa. E a PF se prepara para encontrar um cardume de pintados. Vavá, nessa história, me parece mais um lambari que foi pego. Qual é a vantagem? É um lambari especial, porque é irmão do presidente — disse Lula, na época.