SÉRGIO ROXO, TIAGO DANTAS E JAILTON DE CARVALHO
O globo, n. 30034, 30//10/2015. País, p. 5
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) pediu esclarecimentos à PF sobre a intimação de Luis Claudio, filho do ex-presidente Lula. Ele teria sido intimado às 23h de terçafeira, depois da festa de aniversário do pai, para depor na Operação Zelotes. Para Cardozo, o horário seria “fora do procedimento usual”. -BRASÍLIA E SÃO PAULO- O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu que o diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, esclareça com urgência se o empresário Luis Claudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi mesmo intimado às 23 horas de terça-feira, logo depois de sair da festa de aniversário do pai.
“Tendo em vista a informação divulgada pela imprensa de que o senhor Luis Claudio Lula da Silva teria sido intimado, em tese, fora do procedimento usual, para prestar depoimento em inquérito policial, solicito imediato esclarecimentos para fins de avaliação ministerial do ocorrido”, cobrou Cardozo.
Para a defesa, a intimação de Luis Claudio, tarde da noite de terça, estaria fora dos padrões de atuação da PF. O depoimento de Luis Claudio deveria acontecer ontem, mas o advogado Cristiano Zanin Martins pediu o adiamento, o que foi aceito pela PF. Em nota, a defesa do filho do expresidente alegou que o prazo entre a convocação e o depoimento era curto e que os advogados não tinham conhecimento do inteiro teor das investigações.
Procurada, a assessoria da PF não confirmou se a intimação ocorreu mesmo por volta das 23h. O filho caçula de Lula participou na noite de terça-feira da comemoração pelo aniversário do pai, no instituto do ex-presidente, na Zona Sul de São Paulo. A presidente Dilma esteve na celebração, que reuniu 30 pessoas.
Na segunda-feira, o escritório das empresas de Luis Claudio foi alvo de uma operação de busca e apreensão. De acordo com a Operação Zelotes, a LFT Marketing recebeu R$ 1,5 milhão da Marconi & Maltoni, que em 2009 teria articulado no Planalto o lobby para aprovação de uma medida provisória que beneficiava empresas automotivas.
A Polícia Federal investiga se empresas de lobby contratadas pela Mitsubishi e pela Caoa, representante da Hyundai, pagaram R$ 10 milhões ao exministro Gilberto Carvalho e a outros agentes públicos que teriam ajudado na aprovação de três medidas provisórias favoráveis às duas montadoras entre 2009 e 2013. No interrogatório de Eduardo G. Valadão, um dos sócios da SGR presos na Zelotes, a delegada Rúbia Danyla G. Pinheiro vinculou o ex-ministro à sigla GC e a um dos números encontrados num manuscrito apreendido.
“O que significa GC 10, isso é uma alusão ao Gilberto Carvalho e o aumento do valor dos colaboradores para R$ 10 milhões?”, quis saber a delegada. Valadão recorreu ao direito de permanecer calado. E perguntou: “Conhece Gilberto Carvalho? Alguma vez já o procurou para fazer valer interesse de seus clientes?” Valadão deixou as perguntas sem resposta.
A partir da Zelotes, a PF, o Ministério Público Federal e a Receita Federal investigam se dirigentes da Mitsubishi e da Caoa subornaram agentes públicos por intermédio de lobistas para obter vantagens na aprovação de medidas provisórias relativas a renúncia fiscal para montadoras. A suspeita é que as duas montadoras repassaram cerca de R$ 50 milhões para as empresas Marcondes & Moutini e a SGR para supostamente comprar ampliação de renúncia fiscal prevista em medidas provisórias.
A referência a R$ 10 milhões seria uma parcela dos valores pagos pela suposta compra das medidas. Entre os documentos apreendidos, consta um e-mail em que o vice-presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores, Mauro Marcondes, pede “ao amigo” Gilberto Carvalho que apresente a Lula uma carta com um pleito da categoria.
Em depoimento à PF, Gilberto Carvalho negou que tenha prestado favor ou recebido vantagem dos lobistas investigados.
FERNANDA KRAKOVICS E SIMONE IGLESIAS
O PT, em resolução, chamou de “sabotagem política” a citação de filho do ex-presidente em investigações da PF. -BRASÍLIA- Resolução política aprovada ontem pelo Diretório Nacional do PT afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é alvo de “sabotagem política” e de “armações” por parte de núcleos da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário.
O documento diz que há uma tentativa de criminalizar o ex-presidente, para comprometer seu legado, atingir o PT e desestabilizar o governo. “O PT considera essas situações como abomináveis e destinadas à sabotagem política”.
A resolução ataca supostos abusos cometidos nas investigações com o intuito de “extinguir” o PT e difamar Lula. “Vazamentos seletivos, prisões abusivas, investigações plenas de atropelo e denúncias baseadas em delações arrancadas a fórceps e sem provas comprobatórias, desrespeito ao devido processo legal, ao amplo direito de defesa revelam a apropriação de destacamentos repressivos e judiciais por grupos subordinadas ao antipetismo”, diz trecho do texto.
A proposta conclama a militância a defender o legado de Lula. “O Diretório Nacional igualmente conclama toda a militância petista e todos os democratas a defenderem o legado e o papel histórico do ex-presidente Lula, transformado em alvo prioritário de armações que se multiplicam em núcleos da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário vinculados a operações supostamente anticorrupção”.
Na segunda-feira, a PF fez uma operação de busca e apreensão em uma empresa de Luis Claudio, filho de Lula. Empresas dele, do setor de marketing esportivo, receberam R$ 1,5 milhão do lobista Mauro Marcondes Filho, preso na Zelotes por suspeita de fraude fiscal. A PF indica suposto conluio entre Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete de Lula na Presidência, com lobistas suspeitos de “comprar” trechos de medida provisória para favorecer montadoras de veículos. Carvalho negou envolvimento.
O empresário Luis Claudio Lula da Silva, filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dono de duas empresas investigadas na Operação Zelotes, mora de favor em um apartamento de amigos da família nos Jardins, Zona Sul de São Paulo.
TIAGO DANTASMoradia. Fachada do prédio onde Luis Claudio mora: aluguel não é cobradoA informação foi divulgada na edição de ontem do jornal “Folha de S.Paulo”. O apartamento de 158 m² onde Luis Claudio vive pertence à Mito Participações. Segundo a publicação, a empresa tem como cotistas a mulher e as filhas do advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula e padrinho de batismo de Luis Claudio.
Funcionários do condomínio confirmaram que o filho do Lula mora no edifício pelo menos desde 2013, mas não souberam dizer a quem pertencia o imóvel. Vizinhos ouvidos pelo GLOBO afirmaram que souberam pela imprensa que Luis Carlos morava ali.
O aluguel do apartamento, localizado em bairro nobre de São Paulo, é estimado em R$ 5 mil. Segundo a “Folha”, o imóvel está avaliado em R$ 1,2 milhão. Teixeira era o dono de um imóvel em São Bernardo do Campo, no ABC, onde Lula morou por oito anos sem pagar aluguel.
Em 1997, Teixeira foi citado em denúncias de desvio de recursos de prefeituras do PT. Ele acabou absolvido pela comissão interna do partido que apurou o caso.
Procurado, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Luis Claudio e é genro de Teixeira, não retornou. À “Folha”, Martins declarou que o filho de Lula tem um “acordo verbal” com as donas do imóvel para que não pague aluguel e fique responsável pelas contas e despesas.
Martins entrou com um pedido na Justiça anteontem para anular a investigação contra Luis Claudio na Operação Zelotes. Segundo ele, o nome de Luis Claudio e de suas empresas não foram citados no relatório da Polícia Federal.