Correio Braziliense, n. 19.119, 30/09/2015. Brasil, p. 11

AS BOAS NOTÍCIAS NA ECONOMIA

ARMANDO CASTELAR.

Confesso que certos dias penso duas vezes antes de ler as páginas de economia do jornal. Acabo fazendo-o, até por dever de ofício, mas é triste ver tanta notícia ruim: inflação de quase 10%; um milhão de empregos formais destruídos em 12 meses; dólar, juros e dívida pública em alta. O salto de 2,6 pontos percentuais na taxa de desemprego em um ano mostra a velocidade com que a situação está se deteriorando.

Olhando-se à frente vê-se um quadro econômico assustador. Nosso cenário no IBRE é que o PIB caia 3% este ano e outros 2% em 2016. A “sensação térmica” na economia será ainda pior, pois essa queda será puxada pela retração do consumo e do investimento: o Banco Central (BC) projeta queda de 5,4% na demanda doméstica em 2015.

Também projetamos que o desemprego vai aumentar mais neste e no próximo ano, chegando a dois dígitos ano que vem. Essa alta virá acompanhada da precarização dos postos de trabalho, com o aumento da informalidade e a queda dos rendimentos. Nossa previsão é que no biênio 2015-16 mais de três milhões de empregos formais serão eliminados.

Em meio a tanta má notícia, porém, há algumas boas novas dignas de nota. A primeira é que a política econômica melhorou. Destaco, em especial, a redução de vários subsídios que pesam nas contas públicas. É o caso dos subsídios ao consumo de eletricidade e gasolina e nos empréstimos dos bancos públicos. A alta na tarifa de energia elétrica, ainda que ruim para a inflação de 2015, vai poupar R$ 9 bilhões por ano ao contribuinte e racionalizar o uso da eletricidade. Da mesma forma, as mudanças nas condições de crédito dos bancos públicos pouparão dezenas de bilhões de reais e vão levar ao uso mais eficiente da poupança nacional.

Vale também citar a postura adotada pelo BC a partir deste ano, deixando de lado a tolerância com a inflação alta. Isso tem impedido que a escalada de preços deste ano leve a uma espiral inflacionaria. A tibieza do ajuste fiscal e a valorização do dólar colocam a autoridade monetária em uma situação difícil, mas sem eliminar integralmente os ganhos com sua recente mudança de postura.

Outra notícia boa é que o déficit nas contas externas está caindo com rapidez. Projetamos que em 2016 o déficit em conta corrente diminua para US$ 49 bilhões, de US$ 105 bilhões em 2014. Minha visão é que esse déficit ainda cairá mais nos anos seguintes. Isso não impede, mas reduz a chance de que o país venha a enfrentar uma crise de financiamento externo, como em 1998-99 e 2002-03, e outras vezes no passado.

Destaco, ainda, o saudável papel desempenhado pelo regime de câmbio flexível. É ruim que o Brasil sofra com os problemas que levam à valorização do dólar, mas deixar que o real se desvalorize é a forma mais eficiente de se adaptar a essa situação. Com o tempo, o câmbio mais desvalorizado vai estimular uma necessária reestruturação do setor produtivo.

Infelizmente, essas boas notícias, ainda que importantes para circunscrever a crise, são insuficientes para reverter o quadro econômico ruim: não só o governo errou e ainda erra demais, como o cenário externo não ajuda. A falta de vontade política e a inclinação ideológica do governo também prejudicam. O resultado é que o avanço observado até aqui não tem sido capaz de estancar a queda na confiança das empresas e dos consumidores. Sem motivos para acreditar que as coisas possam melhorar no médio prazo, os bancos dão menos crédito, os consumidores se retraem, as vendas caem, e as empresas não investem nem têm por que segurar as demissões.

O país precisa de mudanças adicionais para alavancar as boas notícias e sair da atual enrascada. Quatro dessas mudanças são críticas.

Primeiro, perseverar no corte de despesas: ainda há bastante que pode ser feito, inclusive reduzindo subsídios. Segundo, implementar reformas estruturais para impedir que o gasto público corrente continue aumentando à frente do PIB, de forma que a situação fiscal possa ser equacionada no médio prazo.

Terceiro, dar uma solução para a difícil situação financeira da Petrobras. A percepção de que a União pode ser forçada a assumir a enorme dívida da Petrobras está por trás da alta do dólar e do risco país. Por fim, é fundamental adotar reformas que estimulem o crescimento, aumentando a competição, inclusive via abertura comercial, e dando maior segurança jurídica aos empreendedores.

Vamos torcer para que o país avance nessas reformas, para podermos ler o jornal com menos receio de nos deprimir.