Fim de CPI da Petrobras deve beneficiar Cunha

Letícia Casado e Murillo Camarotto 

15/10/2015

A CPI da Petrobras está marcada para terminar no dia 23 de outubro e seu fim irá beneficiar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se encerrada na próxima semana, vai acabar sem que os deputados tenham tomado depoimento de pessoas que envolveram Cunha no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. E também não poderão cobrar de Cunha uma resposta sobre as contas na Suíça que a Procuradoria-Geral da República afirma ter provas de que possui. O relator Luiz Sérgio (PT-RJ) avisou que se posiciona contrário à prorrogação.

Cunha foi à CPI em março, de forma espontânea, sem ser convocado e foi dispensado do juramento de dizer a verdade. Questionado se possuía contas no exterior,disse que não. Mas a sua resposta foi diferente da apresentada pela PGR, que confirmou questionamento feito pelo PSOL neste mês. Segundo a Procuradoria, Cunha abriu contas na Suíça e os documentos foram enviados pelo Ministério Público suíço ao Brasil. O PSOL abriu representação por quebra de decoro parlamentar.

A sessão de ontem foi marcada por bate-boca entre o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) e aliados de Cunha. Valente cobrou que a CPI o convoque para depôr e quebre seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. Ele disse que Cunha mentiu quando foi à CPI, em março, e divulgou uma gravação na qual o presidente se oferece para prestar esclarecimentos sempre que necessário. Valente foi contestado por Carlos Marun (PMDB-MS) e João Gualberto (PSDB-BA).

A discussão durou quase uma hora e foi presenciada pelo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, que esperava para começar a prestar depoimento.

Há meses Valente acusa os parlamentares da CPI de blindarem Eduardo Cunha. Em diversas ocasiões Valente discutiu em público com o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), por conta dos depoimentos de pessoas supostamente ligadas a Cunha, como o lobista Julio Camargo e o policial federal Jayme "Careca" Alves. Camargo disse aos investigadores que Cunha lhe pressionou a pagar US$ 5 milhões em propina de corrupção na Petrobras; Careca disse ter feito uma entrega dinheiro a mando do doleiro Alberto Youssef e cujo destinatário final seria Cunha.

A comissão aprovou requerimentos para ouvir Camargo e Careca, mas não marcou as datas dos depoimentos. Cabe ao presidente da comissão - aliado de Cunha -, fazer a agenda.

PSDB se desentende sobre presidente da Câmara

Vandson Lima e Raphael Di Cunto 

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) criticou a postura de deputados do seu partido de não partir para a ofensiva contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de omitir contas no exterior, nas quais teria recebido propina fruto de envolvimento em esquema na Petrobras.

O senador articula junto ao presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), a convocação de uma reunião da Executiva do partido para fechar questão pelo rompimento com Cunha e defesa efetiva de sua saída da presidência. Para Cunha Lima, a imagem do PSDB está sendo prejudicada.

Segundo o senador, os deputados tucanos investem em uma "ética seletiva" ao manterem relações com Cunha. "O presidente da Câmara está com a cabeça a prêmio e vendo quem pode salvá-lo, governo ou oposição. Quem der mais, leva. E o país que se exploda", disse. "O que não pode é ética seletiva. Tem que ser para todos, não para alguns e de acordo com nossas conveniências ou interesses".

Ele comparou a situação de Cunha com a da presidente Dilma Rousseff. "Combatemos muito a presidente Dilma pelas mentiras que a levaram à Presidência. É tão grave mentir na CPI como mentir à sociedade. A condição de Cunha como presidente da Câmara é insustentável. Não tem mais como exercer o cargo pela pedagogia péssima que traz", opinou. "A situação não pode mais ser tolerada. Nesse episódio, o PSDB erra por lentidão. A Câmara está errando".

O senador tentou entrar em contato com o líder tucano na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), três vezes esta semana para tratar do assunto, sem sucesso. "Sequer me retornou". Sampaio esteve ontem em São Paulo, em reuniões com os juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, para formatar novo pedido de impeachment a ser apresentado pela oposição.

Na Câmara, o vice-líder do PSDB, Daniel Coelho (PE), afirmou que "não há ambiente na bancada para fazer acordo e salvar ninguém", negando que os deputados mantenham apoio a Cunha para que ele possa dar andamento a um processo de impeachment de Dilma. "A gente não vai entrar no jogo do governo e do PSOL de tirar o foco do PT e do impeachment".

Valor econômico, v. 16 , n. 3862, 15/10/2015. Política, p. A10