Preço do etanol dispara nos postos do país

Fabiana Batista 

15/10/2015

Em uma semana, os motoristas de São Paulo, maior Estado consumidor de combustíveis do país, passaram a pagar, em média, 10% mais pelo etanol hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos. A tendência é que novos reajustes de preço na usina de cana-de-açúcar sejam repassados nos próximos dias. A crescente valorização do hidratado no varejo tende a arrefecer a demanda pelo produto, provocando uma migração de consumo para a gasolina.

Os dados apresentados nesta semana pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) referentes ao período de 4 a 10 de outubro mostraram que, em média, o preço do biocombustível nos postos do Estado de São Paulo subiu 9,8% sobre a semana anterior, para R$ 2,201 o litro. Com isso, a paridade com a gasolina, antes em 63%, saltou para 67%, aproximando-se do limite de 70% do preço da gasolina - o que torna indiferente para o consumidor abastecer com o biocombustível ou com o derivado fóssil.

Nas quatro semanas que antecederam o reajuste de 10 de outubro nos postos paulistas, os preços do hidratado na usina em São Paulo já haviam subido 16%, para R$ 1,46 o litro, conforme o indicador semanal Cepea/Esalq. Além disso, houve o impulso do reajuste de 6% no valor da gasolina na refinaria.

Nos postos, os preços do etanol foram repassados aos poucos, ao longo desse mesmo intervalo. Em três semanas, a alta acumulada do produto foi de 6,3%. Mas na quarta semana (a passada), o repasse foi, de uma só vez, de 9,8%.

A alta de preços ao consumidor só não ocorreu em Alagoas e em Sergipe, Estados que estão iniciando a moagem de cana de 2015/16. Em todos os outros, houve reajuste nos postos, o que tende a trazer um impacto no consumo de hidratado a partir deste mês. Uma queda mais representativa é vista como provável de novembro em diante, na avaliação da consultoria FG Agro.

Atualmente no patamar de 1,5 bilhão de litros, essa demanda mensal tende a se aproximar do patamar de 1,2 bilhão, segundo a consultoria. Mesmo porque ainda há mais repasses para acontecer nos postos de combustíveis. Na última sexta-feira, o litro do hidratado na usina voltou a ter forte alta, ainda não refletida nos preços do varejo. O indicador Cepea/Esalq para o hidratado subiu 4,17% na última semana na usina, para R$ 1,5210 o litro. "A demanda de 1,2 bilhão de litros mensais será suficiente para consumir a oferta de etanol da safra", avaliou o especialista da FG Agro, Willian Hernandes.

O mercado brasileiro de etanol tende a ter outras surpresas nos próximos meses, vindas do exterior. Ontem, a consultoria Datagro elevou sua estimativa para a exportação do etanol do Brasil para 1,8 bilhão de litros em 2015/16, contra 1,09 bilhão estimados anteriormente. O aumento veio do Centro-Sul, para o qual a Datagro prevê embarque de 1,65 bilhão de litros - a estimativa anterior era de 1,05 bilhão de litros.

A demanda maior pelo produto brasileiro se reflete nos preços pagos no mercado americano, em especial na Califórnia, que aprovou a readoção do programa de redução de emissões de carbono, disse o presidente da Datagro, Plínio Nastari. Esses valores estão em níveis de R$ 1,85 por litro (para as usinas que não têm cogeração) - 8,8% acima do registrado no mercado interno na última sexta-feira. "Para o próximo ano, os embarques do Brasil para o mercado da Califórnia podem superar 900 milhões de litros", estimou Nastari.

Valor econômico, v. 16 , n. 3862, 15/10/2015. Agronegócios, p. B14