Importação despenca e eleva superávit a US$ 10 bi no ano
Lucas Marchesini, Fábio Pupo, Marta Watanabe e Estevão Taiar
02/10/2015
A grande queda nas importações permitiu à balança comercial de setembro ter superávit de US$ 2,944 bilhões, resultado de US$ 16,148 bilhões em exportações e US$ 13,204 bilhões em importações. Foi o melhor resultado desde 2011, quando essa diferença foi de US$ 3,074 bilhões. No acumulado do ano, o saldo já está positivo em US$ 10, 246 bilhões.
Apesar do superávit, analistas destacam que foram surpreendidos negativamente com o recuo de 32,7% no total das importações em setembro, contra igual mês de 2014, no critério da média diária. A variação mostra que a queda da importação se acelerou. De janeiro a setembro, os desembarques recuaram em média 22,6% contra igual período do ano passado.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a queda maior de setor deve ditar a tendência para o recuo das importações no quarto trimestre. As importações a partir de outubro, analisa, devem refletir a aceleração da alta do dólar verificada desde julho e também a deterioração maior nas expectativas em relação à recuperação da economia.
Até agora boa parte das importações que tínhamos, diz ele, havia sido negociada anteriormente, até março deste ano. "Mesmo com a queda de demanda interna, esses desembarques aconteceram no decorrer dos últimos meses, porque já haviam sido contratados." Pouco a pouco, porém, esses contratos estão acabando e as importações do último trimestre já devem ser o resultado do que foi negociado a partir de julho. A forte queda na importação de bens de capital e de intermediários mostra a falta de investimento do setor produtivo e a desaceleração da produção industrial.
Para o economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria, a evolução das importações em setembro mostra a fragilidade do momento econômico. "É uma queda que tem se intensificado. Os números que vêm piorando mês a mês e nos surpreendendo negativamente", afirma. "Essa retração se deu tanto pelo câmbio quanto pela diminuição do consumo."
No lado dos desembarques, a queda nos combustíveis e lubrificantes puxou a redução das importações totais brasileiras em setembro. As importações das demais categorias de uso, porém, também caíram significativamente no mesmo período, com aumento do ritmo de queda no mês. Tirando os combustíveis e lubrificantes da conta, a importação brasileira recuou 25,81% em setembro, na média diária, contra igual mês de 2014. O recuo é muito maior que os 17,66% de queda de janeiro a setembro, também tirando os combustíveis, em relação a igual período do ano passado.
A queda das importações superou bastante o ritmo de recuo das exportações. Enquanto as importações caíram acima de 30% em setembro contra igual mês de 2014, os embarques recuaram 13,8%, também no critério da média diária. Em setembro, as vendas brasileiras foram ajudadas pela exportação de uma plataforma de petróleo, que, sozinha, rendeu US$ 394 milhões para a balança.
Neste ano, as exportações totalizam US$ 144,495 bilhões e as importações chegam a US$ 134,249 bilhões. A melhora diz respeito em grande parte ao desempenho da conta petróleo. Vilã em outros anos, devido ao grande déficit, em 2015 ela responde por parcela expressiva da melhora do saldo comercial. De janeiro a setembro de 2014, o saldo era negativo em US$ 12,884 bilhões.
No mesmo período deste ano, o valor é negativo em US$ 3,555 bilhões, queda de 72%. O número computado neste ano é resultado da exportação de US$ 13,165 bilhões de petróleo e derivados e de importação de US$ 16,720 bilhões.
"Já era esperada essa contribuição da conta petróleo para a balança comercial. Só neste ano foram exportadas sete plataformas, entraram em operação nove plataformas O saldo é resultado de um todo, mas com certeza redução no déficit do petróleo contribui", afirmou o diretor de estatística e apoio à exportação do Ministério do Desenvolvimento, Herlon Brandão.
Castro destaca que, em relação às exportações de básicos, a desaceleração da China deverá fazer diferença mais visível a partir do ano que vem e deve provocar queda no volume de exportação brasileira de minério de ferro e de petróleo. "A grande incógnita ainda é a soja, porque sua demanda é menos elástica e porque ainda não sabemos qual será o tamanho da nossa safra."
Mesmo com o efeito maior da China sobre as exportações ocorrendo somente em 2016, e com a queda mais acelerada das importações no quarto trimestre, Castro acredita ser pouco provável atingir em 2015 o superávit de US$ 15 bilhões, nova estimativa do ministério para a balança. Entre os fatores, diz ele, está o fim do período sazonal de embarque de soja, a falta de perspectiva de exportação de novas plataformas de petróleo este ano e a continuidade dos baixos preços das commodities.
Valor econômico, v. 16 , n. 3854, 02/10/2015. Brasil, p. A3