O globo, n. 30027, 23//10/2015. País, p. 6
O ex- diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato embarcou ontem, na Itália, em voo com destino ao Brasil. Escoltado pela Polícia Federal ( PF), o mensaleiro foi entregue pelas autoridades italianas em Milão. A PF informou que a chegada ao aeroporto de Guarulhos está prevista para a manhã de hoje. Pizzolato está fora do Brasil desde setembro de 2013, quando fugiu do país pouco antes de ser condenado definitivamente pelo Supremo Tribunal Federal ( STF) pela participação no mensalão.
Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro, Pizzolato usou, na fuga, documentos do irmão morto, mas foi preso em Maranello, na Itália, em fevereiro do ano passado. A extradição foi autorizada no mês passado.
Acompanham Pizzolato um delegado, dois agentes e uma médica. Depois que desembarcar em Guarulhos, o ex- diretor do Banco do Brasil será conduzido para uma delegacia da PF no aeroporto, onde será algemado.
O grupo pegará um avião da PF para Brasília, onde Pizzolato fará exame de corpo de delito no Instituto Médico- Legal ( IML). Depois, ele será levado para o presídio da Papuda, onde ficará preso.
Henrique Pizzolato deixou a penitenciária de Sant’Anna de Modena, no norte da Itália, no início da manhã de ontem. Ele foi levado em uma van pela polícia até o aeroporto de Milão.
Nos próximos dias, os advogados de Pizzolato vão ingressar no STF com um pedido de revisão criminal. Na prática, trata- se de um pedido para um novo julgamento na Corte. Para fazer uma solicitação desse tipo, o condenado na Justiça precisa trazer alguma prova nova que não tenha sido analisada anteriormente.
É o sogro de Pizzolato, João Francisco Haas, quem tem se reunido com um grupo de três advogados para montar as estratégias para o pedido de revisão criminal. Eles contam com a ajuda de Andréa Haas, companheira de Pizzolato há cerca de 30 anos. Advogado que atua na área de direito imobiliário, João Francisco publicou em junho o livro “O verdadeiro processo do mensalão”, no qual defende que o genro não praticou nenhum crime. Em entrevista ao GLOBO, ele preferiu não falar que novas provas são essas a serem anexadas à ação. Afirmou também que foi estratégico esperar passar um tempo para ingressar com o pedido, uma vez que há novos ministros no Supremo.
— O receio que se tinha em entrar com revisional é que enquanto o ministro Joaquim Barbosa permanecesse ( no STF), a gente sabia dos posicionamentos e imposições dele — afirmou João Francisco, que diz que os ministros não podem levar em conta no julgamento desse recurso o fato de Pizzolato ter fugido do país:
— Não atrapalha ( a fuga do Brasil). O Pizzolato não é um fugitivo da Justiça, mas da injustiça ( com G1)
JULIANA CASTRO
Condenado no mensalão, o ex- diretor do BB ( sentado, no avião) foi extraditado para o Brasil. Numa madrugada de setembro de 2013, o ex- diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato bateu a porta de sua cobertura em Copacabana para não mais voltar. Condenado a pouco mais de 12 anos de prisão no processo do mensalão, fugiu para a Itália com uma mochila nas costas, uma pasta de couro no ombro e um plano B na cabeça ( estudou todos os caminhos jurídicos para evitar uma eventual extradição) no caso de tudo dar errado. E deu. Nada planejado funcionou, nem o apelo à Corte Europeia de Direitos Humanos e o pedido de novo julgamento na Itália.
Embora tenha a esperança de que o Supremo Tribunal Federal ( STF) faça sua revisão criminal ( outro julgamento baseado em novas provas), Pizzolato sabe que pode ter outra frustração. Seus amigos, também. Eles já fazem as contas para a progressão de regime ( semiaberto), em junho de 2016, quando ele tiver cumprido um sexto da pena, incluindo o tempo em que esteve preso na Itália.
Fica próxima à Avenida Atlântica a cobertura onde o ex- diretor do BB vivia com a mulher, Andréa Haas, companheira de cerca de 30 anos que conheceu na faculdade de Arquitetura no Rio Grande do Sul.
Andréa sabia dos planos de fuga. Encontrou com o marido na Europa um mês após ele ter deixado o Brasil com passaporte falso em nome do irmão, Celso, morto em 1978. Os dois se instalaram na casa de um sobrinho de Pizzolato que trabalha para a escuderia Ferrari e mora em Maranello, no Norte da Itália. Foi lá que a polícia italiana bateu para prender o ex- diretor do BB.
Levado para a penitenciária Casa Circondariale di Modena, Pizzolato foi solto em outubro de 2014. A liberdade durou até fevereiro, quando a Justiça italiana decidiu extraditá- lo. Foi então para a Penitenciária Sant’Anna de Modena.
QUADRO DEPRESSIVO COM A EXTRADIÇÃO
Andréa se mudou para ficar mais perto do marido. Podia visitá- lo seis horas por mês. Num desses encontros, ela contou a Pizzolato que o pai dele, Pedro, tinha morrido. Embora seja descendentes de alemães, Andréa só conseguiu ficar na Europa por conta da cidadania italiana que obteve por ser companheira de Pizzolato, neto de italianos. Pelas conversas que mantinha quase diariamente com a filha pelo Skype, o advogado João Francisco Haas conta que a sentiu abalada com a reviravolta no caso e com a iminente extradição de Pizzolato, que entrou num quadro depressivo.
Em defesa do genro, João Francisco publicou o livro, “O verdadeiro processo do mensalão”. Ele contesta a acusação de que o ex- diretor do BB usou dinheiro do esquema do mensalão para comprar a cobertura de Copacabana. O STF condenou Pizzolato por entender que ele autorizou a liberação de R$ 73 milhões da Visa Net para a DNA Propaganda, de Marcos Valério, sem garantias dos serviços contratados. Ele teria recebido cerca de R$ 300 mil. Na época, comprou o apartamento por cerca de R$ 400 mil. João Francisco diz que Pizzolato ocupava funções de gerente e diretor e teria como comprar o imóvel.
O aposentado Alexandre Teixeira é outro defensor do ex- diretor do BB, de quem é amigo desde os anos 1980. Conhecido como Terremoto, Alexandre planejou com Pizzolato cada minúcia da fuga. No início, o objetivo era simular a morte de Pizzolato, “uma maluquice”, como reconhece hoje o próprio Terremoto.
A primeira parte do plano chegou a ser executada, conta a jornalista Fernanda Odilla no livro “Pizzolato, não existe plano infalível”. Em 24 de abril de 2009, o ex- diretor do BB foi a um cartório no Rio registrar seus desejos póstumos. Levou Terremoto e a mulher do amigo, Martha, para assinarem, como testemunhas, as três páginas de testamento.
No documento, Pizzolato dispensou velório, enterro e missa de sétimo dia. Pedia ainda que suas cinzas fossem jogadas no mar. Como não poderia levantar suspeitas, registrou o destino de seus bens. No fim das contas, a “morte” de Pizzolato não aconteceu.
Pizzolato e a mulher trazem de volta algo que haviam levado para Itália: a mágoa com o PT.
— Eles lutaram pelo PT e agora o que se vê é o próprio governo do PT trabalhando a todo custo para extradição dele — afirma João Francisco Haas.