Título: Múltis remetem para as matrizes US$ 20 bi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2011, Economia, p. 10

Com o mundo em crise, empresas estrangeiras aumentam transferências de lucros e dividendos obtidos no Brasil, uma das economias que ainda apresentam crescimentoNotíciaGráfico

As multinacionais não param de raspar o que podem das filiais brasileiras para repor o caixa de suas matrizes. Com o mundo em crise desde 2008 e o Brasil figurando entre as poucas nações lucrativas do mundo, apenas em julho as transferências alcançaram US$ 1,8 bilhão. No ano, chegaram a US$ 20,5 bilhões. Para empresas como Fiat, Volvo, Nestlé, Santander e Whirlpool, o país tornou-se um dos mercados mais importantes, respondendo por parte considerável do faturamento dessas firmas.

Com tantas remessas e a necessidade cada vez maior de o país importar produtos e serviços, as contas externas acumularam, entre janeiro e julho, um saldo negativo de US$ 28,9 bilhões, informou o Banco Central (BC). Apenas no mês passado, o rombo foi de US$ 3,4 bilhões ¿ número que superou as expectativas da instituição, que trabalhava com US$ 2,9 bilhões. "Ao mesmo tempo em que registramos deficits, temos condições de financiamento. O Investimento Estrangeiro Direto (IED) tem sido mais do que suficiente para cobrir isso", explicou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.

Em julho, o IED alcançou quase US$ 6 bilhões surpreendendo positivamente os técnicos do banco, que previam um ingresso de US$ 4 bilhões no país por esta rubrica. O valor e mais do que cobriu o deficit do mês. No ano, esse capital estrangeiro destinado para o setor produtivo está com um saldo positivo de US$ 38,4 bilhões. Além desses valores, o país ainda dispões dos chamados investimentos em carteira, que são aplicações de estrangeiros em ações e títulos de renda fixa, segmento que acumula, no ano, ingresso líquido de US$ 4,4 bilhões.

Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, o fluxo de IED para o Brasil deve continuar favorável, ainda que em um menor ritmo nos próximos meses. "O deficit em conta corrente continuará sendo financiado pelo IED e deverá fechar o ano de 2011 praticamente estável como proporção do Produto Interno Bruto (PIB)", observou. A expectativa do BC para agosto é de que o deficit nas contas correntes fique em US$ 3,2 bilhões.

Repasses "Isso tudo é o reflexo do Brasil que cresce", disse Inês Filipa, economista-chefe da corretora Icap Brasil. "Com um desempenho menos favorável das companhias lá fora, é natural que ocorra um repasse mais forte para as matrizes." Um dos itens que forçaram o aumento no deficit das contas internacionais é o de transportes. Com o aumento das importações e das exportações, o país precisa cada vez mais de navios estrangeiros para levar as cargas. Em julho, essa demanda foi recorde para todos os meses desde 1947, chegando a US$ 757 milhões.

O país também precisado alugar equipamentos para suas obras de infraestrutura. Apenas em julho gastou US$ 1,3 bilhão com esses aluguéis. Nos primeiros sete meses, os desembolsos somam US$ 9,2 bilhões ¿ o maior valor já registrado pelo BC para esse período do ano. "O dólar depreciado também favorece esses gastos", disse Inês.

Bancos diminuem aposta contra dólar As instituições financeiras cederam frente às medidas do Banco Central para reduzir suas apostas contra o dólar. Segundo os últimos dados divulgados pela autoridade monetária, os bancos, que chegaram a desaguar no mercado US$ 16 bilhões como forma de pressionar por uma desvalorização da divisa norte-americana em relação ao real, agora se viram obrigados a reduzir o montante para quase US$ 2 bilhões. Ainda assim, a tendência da moeda continua de baixa devido ao excesso de capital estrangeiro que ingressou no país no mês passado. A diferença entre tudo que saiu e entrou deixou um saldo positivo de US$ 7,7 bilhões, volume formado por US$ 1,1 bilhão em aplicações financeiras e US$ 6,6 bilhões trazidos por exportadores. (VM)