Não há provas contra Lula, dizem Moro e MPF

Cristiane Agostine 

25/11/2015

No despacho em que pediu a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação lava-Jato, afirmou que não há provas de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja envolvido nos esquemas ilícitos investigados. Representantes do Ministério Público Federal, os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Diogo Castor de Mattos também disseram, ontem, que não há nada que mostre um suposto envolvimento de Lula em irregularidades que levaram à prisão do pecuarista, amigo do ex-presidente.

A notícia da prisão de Bumlai, no entanto, foi vista com receio por pessoas próximas ao ex-presidente. Para petistas, ficou reforçada a tese de que Lula é o alvo das investigações e até a escolha do nome "Passe Livre" para a 21ª fase da Lava-Jato, que prendeu Bumlai, explicitaria isso. O nome é uma referência ao suposto trânsito que o pecuarista tinha no Planalto na gestão Lula.

O juiz Moro e os dois procuradores afirmaram que Bumlai teria se servido de maneira indevida do nome e da autoridade de Lula para obter benefícios. O pecuarista é acusado de receber empréstimos que não foram quitados e que supostamente iriam para o PT.

"Não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução", afirmou Moro.

Depois da prisão de Bumlai, o procurador Santos Lima afirmou a jornalistas que o nome de Lula teria sido usado na negociação para empréstimo com o banco Schahin, mas disse que não há evidência efetiva de que o ex-presidente realmente tenha interferido. Na mesma linha, Mattos disse que não existe nenhuma comprovação de suposta intercessão de Lula no esquema ilícito.

Com a prisão de Bumlai, o ex-presidente procurou descolar-se do pecuarista e pessoas próximas ao ex-presidente, como Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e sócio do ex-presidente, evitaram defender o empresário. Okamotto negou que o ex-presidente esteja envolvido em esquemas ilícitos e disse que Lula não deu aval a ninguém para cometer irregularidades. "Para alguém ter problemas [com a Justiça] tem que ter feito algo errado. Lula não fez nada de errado", afirmou "Não tem nada que desabone."

Ao comentar a prisão de Bumlai, Okamotto desconversou. "Não tenho conhecimento jurídico para julgar se era necessária ou não a prisão. É preciso aguardar mais informações", disse. "Mas não fiquei surpreso com a prisão".

O presidente do Instituto Lula, no entanto, confirmou que o ex-presidente e Bumlai são amigos e afirmou que o pecuarista frequentava inclusive eventos com familiares de Lula. "Não é uma amizade de confidências. Mas Bumlai é uma pessoa que frequentava eventos no Planalto, ia à procissão no sítio [do ex-presidente], almoçava com os filhos do Lula. Lá atrás ele demonstrou muito apoio a Lula e assim eles se tornaram amigos".

Valor econômico, v. 16 , n. 3890, 25/11/2015. Política, p. A8