Correio braziliense, n.19.112 , 23/09/2015. Política, p. 2

Dilma fortalece PMDB com a Saúde

Para garantir a manutenção dos vetos, barrar processos de impeachment no Congresso e assegurar a aprovação da CPMF encaminhada ontem ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff deu a alma do governo ao PMDB e ofereceu à legenda o Ministério da Saúde, a pasta com o maior orçamento da Esplanada: R$ 109,2 bilhões, de acordo com números deste ano.

"A aprovação da CPMF é uma construção. Claro que, se de fato estivermos no governo, o diálogo nesse sentido será muito mais fácil", admitiu o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Reunida ontem no plenário 2 da Câmara, a bancada do PMDB na Casa - que tem integrantes que defendem abertamente o impeachment da presidente - aprovou por ampla maioria os nomes para o Ministério da Saúde e para a pasta de infraestrutura, que será fruto da fusão das Secretarias de Portos e Aviação Civil. Para a primeira, foram aprovadas as indicações de Marcelo Castro (PI) e Manoel Júnior (PB). Para a segunda, Celso Pansera (RJ), José Priante (PA) e Carlos Marun (MS).

Das cinco opções apresentadas pela legenda, quatro têm uma ótima ligação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). O Planalto sabe que o peemedebista, que tem em suas mãos o poder de engavetar ou dar seguimento aos pedidos de impeachment de Dilma, precisa ser cortejado. As bancadas do PSB na Câmara e no Senado, por exemplo, fecharam questão a favor do afastamento da presidente, embora os governadores da legenda, como Rodrigo Rollemberg (DF), sejam contrários à iniciativa.

Dilma quer manter o atual ministro Eliseu Padilha na provável pasta de infraestrutura. Apesar de não ter sido aliado de primeira hora, a presidente reconhece o esforço que ele fez, ao lado do vice-presidente Michel Temer, para aprovar o primeiro ajuste fiscal enviado ao Congresso. Mas os deputados esperam ser contemplados com essa indicação, já que Padilha não é mais parlamentar e "não representaria a bancada do PMDB na Casa".

Dilma, que começou a pensar seriamente na possibilidade de ceder ao PMDB o Ministério da Saúde, após o pedido expresso feito pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, em audiência na tarde de segunda-feira, precisa administrar outro problema. O Ministério da Pesca será anexado à da Agricultura. Bom para Kátia Abreu, mas, com isso, Helder Barbalho - filho do senador Jader Barbalho - perde assento na Esplanada.

Jader está possesso. Dilma avisou que encontrará um lugar adequado para Helder, mas o pai continua irritado. O senador paraense foi fundamental para reaproximar Dilma do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), na época em que este mantinha arroubos oposicionistas explícitos. "Jader foi fundamental para nós em um dos momentos mais agudos da crise, quando perdemos Eduardo Cunha e víamos Renan nos escapando das mãos. Dilma saberá recompor-se com ele", assegurou um interlocutor palaciano.

Papel
Se o cenário com o PMDB da Câmara está delineado, Dilma precisa definir o papel dos senadores. Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia) serão mantidos nos cargos. Não que sejam os favoritos do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Mas, de olho na sucessão de Renan na presidência da Casa, em 2017, Eunício não quer exonerar senadores da Esplanada para que estes voltem para a bancada irritados com ele. Tentou emplacar um nome para a Integração Nacional, mas Dilma não demonstrou disposição de mexer com o PP - o titular da pasta é Gilberto Occhi.

Mas Renan quer ser compensado pela fidelidade. Ele está de olho no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que deverá ter anexado a ele o Ministério do Turismo. O problema é que Dilma gosta de Armando Monteiro Neto. Ele foi o primeiro nome da área econômica anunciado por ela no ano passado. Mas ele desgastou-se ao criticar a segunda etapa do ajuste fiscal, que pretende cortar R$ 8 bilhões do Sistema S, responsável pelo treinamento e aperfeiçoamento de trabalhadores para a Indústria.

Dilma também recuou da disposição de tirar o status de ministério de algumas pastas, como a Advocacia-Geral da União (AGU). "Pela função que exercemos, pela interlocução que temos com todas os Ministérios da Esplanada, acho importante que mantenham o status de ministério", defendeu o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Ele esteve ontem no Tribunal de Contas da União (TCU) para apresentar àquela corte propostas do governo para evitar a repetição de procedimentos como as "pedaladas fiscais".

» O novo desenho

Para não melindrar aliados, Dilma Rousseff abre espaço para o PMDB e desiste de fundir pastas. Confira:

»  No Ministério da Saúde, a presidente Dilma Rousseff oferecerá a pasta à bancada do PMDB da Câmara dos Deputados.

»  As secretarias dos Portos e da Aviação Civil serão fundidas em uma pasta de infraestrutura, a ser comandada pelo PMDB. As pastas não serão mais anexadas ao Ministério dos Transportes para não melindrar o PR.

»  O Ministério da Pesca será anexado ao Ministério da Agricultura.

»  Será criado o Ministério da Cidadania, englobando Direitos Humanos, Políticas para Mulheres e Igualdade Racial.

»  O Ministério da Micro e Pequena Empresa será fundido ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

»  A pasta do Turismo também poderá ser fundida ao MDIC, ou ao Esporte. Não há, contudo, ainda decisão sobre isso.

»  O Banco Central, a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) devem manter status de ministério.

»  O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) será fundido ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).