Correio braziliense, n.19.111 , 22/09/2015. Política, p. 3

 

PF prende lobista do PMDB

 

Além de João Augusto Rezende Henriques, ligado aos peemedebistas, operação “Nunca Durma” prendeu José Sobrinho (foto), dono da Engevix

Eduardo Militão


A Polícia Federal prendeu ontem o lobista do PMDB João Augusto Rezende Henriques e um dos três donos da empreiteira Engevix, o empresário José Antunes Sobrinho. As prisões fazem parte da 19ª fase da Operação Lava-Jato, apelidada de “Nessun Dorma”, ou “Nunca durma”. Foram cumpridos 11 mandados judiciais em São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Os agentes fizeram apreensões e conduziram duas pessoas para depor de maneira forçada na capital fluminense, ambas ligadas ao lobista.

Antunes, um dos três donos da Engevix, foi preso no sul do país, acusado de pagar propinas para a empreiteira obter um contrato de R$ 140 milhões com a Eletronuclear. O dinheiro, dizem os investigadores, chegou às mãos do presidente da estatal, Othon Pinheiro, por meio da empresa Aratec, com pagamentos efetuados em janeiro de 2015, quando o outro dono da construtora, Gérson Almada, já estava preso em Curitiba.

Segundo os investigadores, Antunes Sobrinho encontrou-se com o delator do caso, Victor Sérgio Colavitti, dono da Link Projetos, durante a investigação. “Colavitti admitiu que intermediou repasses da Engevix a Othon Luiz, para produzir documentos falsos, com o objetivo de justificar repasses de propina ao então presidente da Eletronuclear”, informou a procuradoria, por meio de nota oficial.

A PF ainda prendeu temporariamente o lobista João Augusto Henriques. A polícia e a procuradoria sustentam que uma propina de US$ 31 milhões foi dividida entre o PMDB, Jorge Zelada (ex-diretor da área internacional da Petrobras), Henriques e o funcionário da Petrobras Eduardo Musa, num negócio bilionário: a Petrobras contratou o navio-sonda Titanium, do empresário chinês Hsin Su e do operador Hamylton Padilha, delator da Lava-Jato, por US$ 1,6 bilhão. Parte desses valores foram recebidos no exterior.

Henriques ainda estaria envolvido na intermediação de propinas na venda da Refinaria da Petrobras em San Lorenzo, na Argentina, na compra de 50% de um bloco de petróleo na Namíbia, na venda de participação em uma empresa da Petrobras e na contratação de serviços de meio ambiente, segurança e saúde prestados pela Odebrecht.

Em 2013, Henriques admitiu, em conversa gravada com autorização judicial, que pagava propinas para políticos do PMDB a partir de contratos com irregularidades na Petrobras. O lobista chegou a dizer que, de um negócio de US$ 800 milhões com a empreiteira Odebrecht, US$ 8 milhões foram parar nas mãos de Vaccari, nas eleições de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita pela primeira vez.

Alerta

Uma ação criminal na Justiça Estadual do Rio de Janeiro acusa o lobista de ter intermediado um contrato superfaturado em US$ 344 milhões. “O que é peculiar é que o próprio acusado João Augusto Rezende teria confessado que teria intermediado propinas em contratos da Petrobras em entrevista gravada na revista Época”, narrou o juiz Sérgio Moro no pedido de prisão.

Quando a Diretoria de Internacional da estatal foi dirigida por Nestor Cerveró, os investigadores sustentaram que o operador de esquemas de corrupção passou a ser Fernando “Baiano” Soares. De acordo com o delegado da PF, Igor Romário de Paula, o nome da Operação, que significa “Nunca durma”, é um “recado” àqueles que praticam corrupção no Brasil. “O nome fica como dica para quem achava que a Operação Lava-Jato tinha diminuído suas ações e um alerta, um recado”, afirmou o delegado. A reportagem procurou a assessoria da Engevix, mas não obteve esclarecimentos. A reportagem não localizou a defesa de Henriques. O PMDB tem negado todas as acusações de corrupção.