Correio braziliense, n.19.111 , 22/09/2015. Política, p. 4

PMDB diz não à oferta de cargos feita por Dilma

Caciques reagiram à ideia da presidente de escolher Kátia Abreu como interlocutora do partido. Presidente espera concluir reforma amanhã.

Marcella Fernandes


No primeira dia de reuniões com a presidente Dilma Rousseff após a polêmica viagem à Rússia e à Polônia, o vice-presidente Michel Temer mostrou à titular do Planalto, de maneira implícita, que o PMDB vai colocá-la para correr atrás da legenda em busca de apoio político. Em dois encontros — o primeiro pela manhã, e o segundo à tarde, com a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e do líder do partido na Casa, Eunício Oliveira (CE) — o partido expôs a posição de não indicar nomes para os cargos, até porque a presidente não apresentou na reunião o novo desenho da Esplanada.

O PMDB, que tem deixado o governo à deriva sem abrir mão dos espaços já ocupados na máquina pública — hoje o partido tem seis pastas (Minas e Energia, Agricultura, Turismo, Aviação Civil, Pesca e Portos) — , ficou muito incomodado com as especulações de que a presidente escolheria a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, para ser a negociadora do Planalto com o partido, em detrimento do vice-presidente Michel Temer.

Dilma percebeu o estrago que essa ideia causaria e decidiu chamar os caciques peemedebistas para uma conversa pessoalmente, sem intermediários. Além das reuniões de ontem, a presidente pretende ter uma conversa com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o líder do partido na Casa, Leonardo Picciani (RJ). Picciani tem se desgarrado de seu mentor, Cunha, e aberto um canal de conversa diretamente com o Planalto, o que tem causado ciúmes na cúpula da legenda. Cunha rejeitou.

Para reduzir o tamanho da máquina pública e sinalizar que o governo está cortando na própria carne, Dilma planeja juntar Agricultura e Pesca (ambas sob o comando do PMDB) e também as Secretarias de Aviação Civil e Portos ao Ministério dos Transportes (As secretarias estão na mão dos peemedebistas, mas o Ministério é dominado pelo PR).

A intenção da Presidente é que as bancadas do PMDB no Senado e na Câmara estejam representadas no novo desenho ministerial para remontar o apoio da base aliada. Dilma precisa do apoio do PMDB para barrar eventuais processos de impeachment no Congresso e aprovar o pacote fiscal. A estimativa hoje é de que metade da bancada do partido na Câmara votaria a favor de um pedido de afastamento da presidente, caso a questão venha ao plenário.O presidente da Casa, Eduardo Cunha, disse que deve dar uma resposta essa semana ao pedido de impeachment apresentado na semana passada por um dos fundadores do PT, Hélio Bicudo.

Consulta

A fim de evitar desgastes, Dilma também vai consultar os líderes dos demais partidos na Câmara dos Deputados e no Senado antes de anunciar a reforma ministerial, prevista para esta quarta-feira. A consulta às bancadas para definição dos cargos foi anunciada durante a reunião de coordenação política, com os líderes do governo no Legislativo e doze ministros, e discutida durante um encontro reservado da presidente com o vice no início da manhã.

Ao longo do fim de semana, Dilma realizou reuniões diversas sobre o novo rearranjo de pastas. A definição deve ser anunciada até quarta-feira, já que, no dia seguinte a presidente viaja para Nova York, onde irá participar da Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma das possibilidades é que o Planalto informe apenas o novo desenho, sem indicar os nomes.