‘Acabou negócio de Danone’, diz primeira inscrita no Fome Zero

 

RENATA MARIZ 

O globo, n. 30047, 12//11/2015. País, p. 4

 

Veida Maria Monteiro, que recebeu das mãos do ex-presidente Lula o primeiro cartão do Fome Zero em Belém, ponto de partida do programa entre as capitais do país, lembra que ficou “famosa na época”. Era 2003. O benefício, já na forma do Bolsa Família, derivado do Fome Zero, estendeu-se até 2009 e ajudou a elevar o padrão de vida de sua família. O tanquinho deu lugar a uma máquina de lavar. Fogão e geladeira foram renovados. O microondas completou a cozinha. A casa, antes de madeira, ganhou uma nova estrutura de alvenaria.

DIVULGAÇÃOLembrança. Veida Maria Monteiro (de brinco) segura a mão do então presidente Lula, em 2003: “Alegre demais”, diz ela ao relembrar o momento

Ela conta que as dificuldades começaram mesmo há cerca de um ano, quando os serviços que o marido faz, como ajudante de obras, passaram a ficar mais escassos. A família vive dos poucos bicos que ele vem conseguindo, dos bolos e lasanhas que ela tenta vender na porta de casa e de um salário-mínimo que recebe de benefício assistencial pela filha do meio, que tem paralisia cerebral e só fica acamada.

Diante do aperto, hábitos adquiridos nos últimos anos já estão virando coisa do passado, conta Veida:

— Acabou negócio de Danone, tomamos menos refrigerante agora. Também reduzimos o material de limpeza. Antes eu comprava marcas melhores, agora só o necessário e das marcas mais baratas.

Na manhã da última sexta, Veida lembrou de como ficou “alegre demais” em pegar na mão de Lula, e resgatou o passado recente de conquistas. Depois que os três filhos cresceram, parou de receber o Bolsa Família.

— Fiquei triste quando disseram que eu não tinha mais direito, porque qualquer dinheirinho é bem-vindo. Mas minha filha, que tem três filhos, conseguiu o benefício. Já ajuda na criação dos meus netos — conforma-se Veida.

A última aquisição é a nova geladeira. Para isso, passou quase um ano acumulando moedas. Porquinho quebrado, era o suficiente para dar a entrada. O restante foi parcelado no nome de uma amiga, que tem emprego fixo e acesso a crediário. Na semana do vencimento do boleto, “deixo até de comer”, brinca Veida, sorrindo, para “honrar o compromisso”.

Ela ainda admira Lula. Afirma que ele “veio de baixo”, “conhece as dificuldades do pobre” e, por isso, votaria de novo nele. Para ela, as coisas “começaram a andar para trás” no governo Dilma.

— O governo dele (Lula) foi melhor. Eu não votei na Dilma.