Título: Dilma promete dar assistência
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2011, Brasil, p. 10
Recebidos pela presidente, familiares das vítimas do voo 447 não emplacaram o pedido de uma investigação paralela da tragédia. O Planalto ofereceu ajuda na relação com a França, que cuida do caso
Dois anos e três meses. Esse foi o tempo que levou para que representantes da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 (AFVV447) fossem recebidos pelo governo brasileiro. Mesmo depois de toda a espera, parentes dos passageiros do avião que saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris e caiu no Oceano Atlântico deixaram o Palácio do Planalto sem que as demandas fossem atendidas.
A presidente Dilma Rousseff garantiu que o Brasil dará a assistência necessária para que eles tenham acesso total às investigações lideradas pelo Escritório de Investigação e Análise (BEA), da França.
O pedido para que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) ¿ órgão nacional ligado às Forcas Armadas ¿ fizesse uma análise paralela usando documentos levantados pela própria associação, no entanto, foi negado.
O presidente da AFVV447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho no acidente, chegou a comemorar a "entrada" da Aeronáutica no caso. De acordo com ele, a presidente disse que o Cenipa faria uma leitura dos laudos técnicos para que esses documentos pudessem ser utilizados judicialmente. "São dois inquéritos na esfera criminal tramitando na Polícia Federal: um em Pernambuco e outro em Brasília. Ambos estão parados por falta de conhecimento técnico do procurador responsável. O Cenipa vai entrar no caso e faremos uma investigação paralela à da França", afirmou, ao fim da audiência.
Menos de uma hora depois, a Assessoria de Comunicação da Presidência avisou que houvera um mal-entendido. Segundo o governo, a Cenipa continuaria, sim, acompanhando as investigações, como ocorre desde o início, mas que não poderia começar qualquer análise paralela.
Na prática, portanto, não houve qualquer nova orientação ao órgão por parte da presidente. O relatório do BEA deve ser concluído no primeiro trimestre do próximo ano. Depois disso, o Cenipa terá até 60 dias para se pronunciar. A reportagem tentou falar novamente com Marinho, mas não conseguiu resposta.
Os dois documentos que a AFVV447 entregou à presidente Dilma para que fossem repassados ao Cenipa são relatórios preparados pela Associação de Pilotos da França e por um especialista alemão, e relatam supostas falhas e perigos em aeronaves da Airbus. Para ele, os aviões da fabricante francesa oferecem poucas possibilidades aos pilotos em caso de emergência.
"Aliás, falei à presidente que fico preocupado em saber que ela usa um Airbus (modelo 319, comprado ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva)", contou Marinho. "Depois do acidente com o avião da Air France, outros seis aviões da Airbus também caíram", completou. Uma das integrantes da associação contou aos jornalistas que Dilma, ao recebê-los no gabinete, comentou: "Eu viajo em um Airbus porque preciso, mas sempre protesto antes de embarcar".
Falei à presidente que fico preocupado em saber que ela usa um Airbus"
Nelson Faria Marinho, Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447