Correio braziliense, n.19.113 , 24/09/2015. Política, p. 2

PMDB já avança sobre 2º escalão da Saúde

O último recurso sacado pelo governo para atrair o PMDB e garantir uma trégua na crise política que assombra o Planalto poderá ter duração mais curta do que imagina o mais pessimista dos governistas. Se é verdade que a maior legenda da coalizão sucumbiu ao convite para assumir o principal orçamento da Esplanada - o Ministério da Saúde e seus R$ 110 bilhões de orçamento previstos para este ano - também é fato que todo o segundo escalão da pasta, incluindo autarquias como a Funasa, seguem nas mãos dos petistas, o que não agrada nada os peemedebistas. "Se daqui a um mês o PT bater o pé e não abrir mão dos cargos, a paz acaba novamente", avisou um interlocutor da legenda.

O Planalto sabe os riscos que corre, mas optou por assumi-los por absoluta falta de alternativa. "Precisamos ter o PMDB ao nosso lado para garantir a governabilidade. Se o preço a pagar por isso é entregar o nosso melhor quadro na Esplanada (o ministro da Saúde, Arthur Chioro), temos de pagá-lo", reconheceu um ministro petista. O terremoto que elevou o dólar a um patamar acima dos R$ 4 no mesmo dia em que o Congresso votaria a derrubada ou não dos vetos presidenciais foi sintomático para o governo.

Segundo apurou o Correio com uma fonte do Executivo, dois fatores forçaram o aumento no preço do dólar, ambos ligados à instabilidade político. O primeiro foi uma declaração dada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que seria difícil manter os vetos na sessão do Congresso Nacional realizada na noite de terça. "E a segunda, mais grave ainda, foi a notícia de que o PMDB não aceitou os cargos oferecidos pela presidente. Qual a mensagem? O governo não tem mais condições de governabilidade para aprovar o ajuste fiscal", disse um interlocutor palaciano.

Dilma resolveu, então, ceder e oferecer ao PMDB a Saúde. "Caso contrário, o dólar chegaria aos R$ 5", completou um auxiliar da presidente. Entre os peemedebistas, a notícia foi vista de maneira alvissareira. "Nos deram um ministério com capilaridade nacional, não podemos reclamar", descreve um aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A legenda, que andava em crise de relacionamento com o Planalto "renovou os laços matrimoniais com a presidente Dilma Rousseff", nas palavras de um cacique peemedebista.

O gesto da presidente diminuiu a pressão quanto ao desembarque do PMDB do governo, como desejavam os oposicionistas no Congresso Nacional da legenda, marcado para novembro. Até quando, não se sabe. Isso porque Dilma já deu diversas sinalizações de que não exonerará o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, do cargo. "Foi ele quem sabotou o trabalho do Michel Temer (vice-presidente) e do Padilha (Eliseu Padilha, ministro da Secretaria Nacional de Aviação Civil). Quem garante que ele não vai atrapalhar as negociações para o segundo escalão da Saúde novamente", questionou um senador peemedebista.

E não é apenas o impasse sobre o segundo escalão que emperra a conclusão das negociações do governo com o PMDB. Ontem, Dilma recebeu das mãos do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) as opções para a Saúde e para a pasta de infraestrutura, decorrente da fusão das Secretarias de Portos e Aviação Civil. Para a primeira, foram indicados Manoel Júnior (PB) e Marcelo Castro (PI), com vantagem para o primeiro.

Para a segunda, foram levados os nomes de Sérgio Souza (PR), José Priante (PA), Washington Reis (RJ) e Celso Pansera (RJ). Dilma ponderou a Picciani que gostaria de manter Eliseu Padilha no futuro cargo. "Presidente, nós fizemos uma votação interna na bancada e foram apresentados nomes para as duas pastas. Fica muito ruim para mim, como líder, se eles não fossem levados em conta", disse Picciani, segundo relato dos presentes.

 

Picciani, líder dos peemedebistas na Câmara, entregou a Dilma os nomes para as pastas (Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados - 11/2/15)

Picciani, líder dos peemedebistas na Câmara, entregou a Dilma os nomes para as pastas

 

 

Governabilidade
Dilma consultou então o vice-presidente Michel Temer, padrinho de Padilha na Esplanada. Temer disse a ela própria para decidir. "Mas Padilha foi fundamental na articulação das votações do pacote", ponderou Dilma. "Foi, presidente. Mas se a senhora acha que o melhor para a governabilidade é manter os dois cargos com a Câmara, aja como achar que deve agir", esquivou-se o vice.

Temer, no entanto, frisou da importância em realocar o ministro da Pesca, Helder Barbalho, cuja pasta será incorporada à Agricultura. "O Jader (senador Jader Barbalho, pai de Helder), está muito chateado. Ele trabalhou pela senhora nas eleições presidenciais e foi fundamental para reaproximar Renan Calheiros do governo. Agora, está se questionando porque aliados recentes estão sendo recompensados e ele, punido", resumiu Temer. "A bancada do Senado se sente contemplada com os nomes de Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia) e Helder Barbalho (hoje na Pesca, mas sem destino definido)", declarou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

Sedução pelo bolso
O que a presidente Dilma Rousseff está oferecendo ao PMDB para sobreviver no cargo:

Ministério da Saúde

»  A pasta tem o maior orçamento da Esplanada, com quase R$ 110 bilhões. É um reduto tradicional petista, embora, em alguns momentos, tenha sido ocupado por peemedebistas. Mas é fundamental nas políticas sociais do governo

Ministério da Infraestrutura

»  Resultado da fusão das Secretaria de Portos e da Secretaria Nacional de Aviação Civil, ambas já sob o reinado peemedebista. O plano de concessões anunciado pelo governo federal prevê investimentos de R$ 37,4 bilhões para investimentos em portos e outros R$ 8,5 bilhões em aeroportos

Ministério de Minas e Energia

»  O PMDB manterá o ministério, que lançou em setembro um pacote de investimentos, mesmo que a maior parte vá sair do papel apenas depois de 2018, na ordem de R$ 186 bilhões

Ministério da Agricultura 

»  O PMDB também assegurou a continuidade no comando do Ministério, que administra um Plano Safra com investimentos de R$ 187,7 bilhões

A quinta pasta

»  O PMDB ainda terá, em tese, mais uma pasta para administrar na Esplanada, que ainda não foi definida.