Correio braziliense, n.19.113 , 24/09/2015. Política, p. 3

Lula pede cautela a Dilma na reforma

Em almoço no Alvorada, ex-presidente aconselha cuidado nas conversas com políticos do Congresso antes de anúncio da nova composição da Esplanada

Preocupado com a perda de espaço do PT na reforma ministerial e com os ruídos decorrentes das mudanças pensadas pela presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconselhou à pupila a ser cuidadosa nas consultas antes de anunciar a nova composição da Esplanada. Segundo interlocutores presentes ao encontro, Dilma precisa conversar com representantes da Câmara, do Senado e, sobretudo, com os movimentos sociais. Lula almoçou com Dilma ontem no Palácio da Alvorada, ao lado de ministros petistas e do presidente nacional da legenda, Rui Falcão. A principal preocupação nesse setor é com as pastas de Direitos Humanos, Mulheres e Igualdade Racial, que devem ser unificadas em uma mesma estrutura, batizada de Ministério da Cidadania. Representantes dos Movimentos Sociais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) já têm demonstrado muitas insatisfações com a polí- tica econômica do Planalto. Se acharem que estão sub-representados no governo, a crise no relacionamento pode se agravar ainda mais. Dilma sequer foi ao Planalto ontem, permanecendo em reuniões intermináveis no Alvorada. Ficou definido que a presidente será responsável por anunciar pessoalmente o novo Ministério. Caso contrá- rio, os nomes serão divulgados por meio de nota oficial. Ainda não há uma definição se o anúncio será feito ainda hoje ou na próxima semana. A presidente deve embarcar hoje para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). A previsão é que ela retorne na próxima terça-feira. O anúncio parcial, só com os cortes ou fusões dos ministérios, sem os nomes dos titulares que comandarão as novas estruturas, enfrenta resistência. “Imagine, uma multidão de ministros mortos-vivos, demissionários, vagando por cinco dias na Esplanada até a presidente retornar dos Estados Unidos?”, questionou um ministro do governo. Logo no início da manhã, o líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), entregou à presidente lista dos nomes escolhidos pela bancada durante reunião na terçafeira. À noite, a previsão era a de que Dilma receberia o líder da legenda no Senado, Eunício Oliveira (CE), e o ex-senador Jader Barbalho, pai de Helder Barbalho, que deve sair do Ministério da Pesca, para um jantar no Palácio da Alvorada. Dos ministros petistas, passaram pela residência oficial, Aloizio Mercadante (Casa Civil), e Jaques Wagner (Defesa), Edinho Silva (Secretaria de Comunicação) e Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência), que deve deixar a pasta. Dilma recebeu ainda o presidente do PDT, Carlos Lupi. O partido deve perder o Ministério do Trabalho, que provavelmente será incorporado à Previdência, sob o comando do petista Carlos Gabbas. Os encontros foram acompanhados pelos novos articuladores do governo — Ricardo Berzoini (ministro das Comunicações) e Giles Azevedo (assessor especial da Presidência)