Título: Fazenda vê crise até 2014
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2011, Economia, p. 14

Campos do Jordão (SP) ¿ A crise está longe de acabar, avalia o Ministério da Fazenda. Segundo o secretário de Política Econômica, Márcio Holland, o mundo ainda vive sobre a sombra do caos desencadeado pela quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Para ele, com o recrudescimento das turbulências nos últimos dias, a economia global ainda passará por mais três anos de intenso nervosismo, incertezas e pouco crescimento. A previsão dele é de que apenas em 2014 todos os riscos estejam extintos. Holland classificou o aguardado discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Ben Bernanke, como previsível e criticou uma possível nova injeção de dólares no mundo.

Holland fez duras críticas à política econômica dos Estados Unidos durante congresso realizado pela BM&FBovespa. "Não é necessário colocar mais dinheiro na economia. Não faz sentido, os bancos estão carregados em US$ 1 trilhão", avaliou. "O problema nos EUA está do lado da demanda. A confiança do consumidor norte-americano está abalada." O secretário aproveitou ainda para alfinetar os economistas e analistas que fazem previsões pessimistas para o país. "Temos de baixar a bola. Nossa capacidade de projeção está limitada neste momento." Entretanto, fez questão de frisar que o Brasil está preparado para enfrentar a crise.

Especialistas presentes ao congresso acreditam que as chances de ocorrer uma recessão global estão se intensificando a ponto de já se cogitar de uma "década perdida" para Europa e Estados Unidos. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e atual presidente do Conselho de Administração da BM&FBovespa não quis usar a palavra recessão, mas destacou que "estamos vivendo um momento de grande risco". Para ambos, as cartas estão dadas e o futuro só vai melhorar caso líderes europeus e a equipe econômica dos EUA deixem o imobilismo e encontrem solução para seus problemas. "A saúde financeira dos países está em questão. Por tabela, o setor financeiro vem se apertando e nos últimos dias começou a enfrentar problemas de captação", disse.

O repórter viajou a convite da BM&FBovespa

Recessão Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, o cenário brasileiro começa a piorar. Em vez de crescer 3,6% em 2011, a economia avançará 3,1%. Caso as condições se mantenham ruins nos Estados Unidos e na Europa, em 2012 o mundo entrará em recessão, recuando 2%. As chances de esse cenário mais dramático se concretizar, segundo ele, estão em 80%. "Vai haver reestruturação de dívida na Europa. Nos EUA, porém, ainda não espero uma ruptura" afirmou. "O preço que os investidores estão pagando para se proteger de um possível calote é altíssimo. Na Europa, estamos nos aproximando dos níveis da quebra do Lehman Brothers."