Desafios energéticos reforçam opção nuclear

 

O globo, n. 30043, 08//11/2015. Economia, p. 14

 

Ocalor registrado no início da primavera e a baixa incidência de chuvas prenunciam mais um verão seco e evidenciam nossos limites energéticos. Esse quadro exige que se repense o modelo ideal para o Brasil. Mesmo com o desaquecimento da economia, a tendência de médio e longo prazos do consumo de energia é de alta, enquanto os índices dos reservatórios de água permanecem perigosamente baixos.

Portanto, é preciso cuidados especiais no planejamento a longo prazo do setor, considerando as fontes potenciais de energia, bem como suas limitações. País tropical, o Brasil deve mesmo investir na geração de energia eólica e solar. São, porém, matrizes caracterizadas tecnologicamente por grande inconstância, além de ainda caras. Isso sugere que essas formas de geração sejam usadas como apoio. País banhado por ricas bacias hídricas, o Brasil conta por décadas com hidrelétricas como fonte principal. A legislação ambiental, porém, para a Região Norte, onde há rios a explorar, permite apenas usinas a fio d’água (sem reservatórios), devido ao impacto no meio ambiente e ao custo social para as populações afetadas.

Os problemas de abastecimento ocorridos nos últimos anos mostram que o modelo a fio d’água não conseguirá suprir a demanda. Prova disso tem sido o uso recorrente de termelétricas, sistema poluidor, e que encarece a conta de luz. Essas usinas entraram em uso após a crise energética de 2001, para funcionar como sistema de emergência. Mas passaram a operar em três turnos.

Há ainda uma opção limpa, confiável e barata: a nuclear. O Brasil já possui duas usinas, constrói uma terceira, e planeja outras unidades. Apesar disso, o setor sofre o estigma da insegurança, reforçado após a catástrofe de Fukushima, em 11 de março de 2011. Provocado pela combinação de eventos extraordinários — um terremoto de magnitude 9.0 seguido por tsunami —, com um modelo de gestão ineficaz, o acidente levou alguns países, como o Reino Unido e o próprio Japão, a fechar suas usinas nucleares. Quatro anos depois, porém, essas posições estão sendo revistas. Em outubro, o reator 2 da usina nuclear de Sendai, no Sudoeste do Japão, foi reativado. É a segunda unidade que começa a operar no país sob a nova legislação de segurança, mais rígida.

A lógica recomenda, portanto, que o Brasil aproveite a infraestrutura já existente e invista nesse modelo de energia limpa e eficiente.