G-20 quer 'ação coletiva' por crescimento

Assis Moreira 

13/11/2015

Os líderes das maiores economias desenvolvidas e emergentes, que formam o G-20, veem riscos na economia global e vão se engajar em estimular investimentos, adotar políticas fiscais flexíveis onde for possível no curto prazo e a evitar desvalorizações competitivas da moeda, conforme o rascunho do comunicado do grupo, ao qual oValor teve acesso.

Na cúpula anual que ocorrerá no domingo e segunda-feira em Antalya (Turquia), eles querem "determinar nossas ações coletivas" por um crescimento robusto. Isso em meio à frustrada retomada sólida da economia global, ilustrada pela desaceleração dos emergentes, exportações em queda e demanda bastante fraca.

"O crescimento econômico global é desigual e fica aquém das nossas expectativas, apesar da perspectiva positiva em algumas grandes economias", diz o texto, que segue em negociação. "Riscos e incertezas nos mercados financeiros permanecem, e os desafios geopolíticos estão cada vez mais se tornando uma preocupação global. Além disso, uma queda na demanda global e problemas estruturais continuam a pesar sobre o crescimento real e potencial."

O grupo notará que o "aumento das desigualdades em muitos países não só apresenta riscos para a coesão social e o bem-estar dos nossos cidadãos, mas também pode ter um impacto econômico negativo significativo e dificultar nosso objetivo de elevar o crescimento".

Espécie de diretório economico do planeta, o G-20 é integrado por países que representam 90% do PIB mundial, 80% do comércio internacional, dois terços da população global e 84% da emissão de gases de efeito estufa.

Na Turquia, os líderes prometerão mais medidas para elevar em mais de 2 pontos percentuais o crescimento mundial até 2018, representando US$ 2 trilhões, para apoiar demanda e elevar o crescimento potencial, e assim implementar os engajamentos assumidos na Austrália no ano passado.

Das mais de mil medidas anunciadas em 2014, o G-20 constatará que somente um terço foram adotadas até agora e que é preciso mais ações para enfrentar "em particular o desafio de crescimento mais lento da produtividade".

Para dar um impulso aos investimentos, em especial com a participação do setor privado, o grupo destaca a elaboração de estratégias "ambiciosas" específicas por país. Estima que isso poderá contribuir para elevar em 1 ponto percentual a taxa de investimento em relação PIB nos próximos três anos.

Vai também se engajar, pelo menos no papel, com políticas para aumentar em 15% o emprego para jovens até 2025, levando em conta que eles estão entre os mais vulneráveis no mercado de trabalho.

Além disso, os países do G-20 prometem adotar políticas fiscais flexíveis "para levar em conta condições econômicas de curto prazo", a fim de estimular crescimento e criação de emprego, ao mesmo tempo em que procurarão colocar a dívida como percentagem do PIB "em ritmo sustentável".

A China, que está no topo dos riscos globais da lista do Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade que representa os maiores bancos do mundo, chega à cúpula do G-20 anunciando despesas quatro vezes maiores que o ritmo de crescimento das receitas em outubro, o que ilustra a determinação de Pequim de manter expansão não muito abaixo de 7%.

O G-20 dirá que suas autoridades monetárias continuarão a assegurar estabilidade de preço e apoiar a atividade economica, "consistente com seus mandatos".

Numa alusão à esperada elevação dos juros nos EUA, que pode ter impacto significativo nos emergentes, o G-20 insistirá em comunicação "calibrada" para mitigar incertezas e minimizar consequências negativas. Na verdade, o mercado acha que já há comunicação exagerada dos bancos centrais nos EUA, zona do Euro e Reino Unido, confundindo mais do que apontando rumos.

Os líderes renovarão o compromisso sobre taxa de câmbio, de se absterem de fazer desvalorizações competitivas, e prometerão resistir a " todas as formas de protecionismo" - apesar de que crescem disputas comerciais justamente por causa de novas barreiras.

Para continuar reforçando o sistema financeiro global, a orientação para o ano que vem é de o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) tratar de riscos de entidades não bancárias e da implementação da reforma na área de derivativos de trilhões de dólares.

Levando em conta o potencial papel da estrutura de endividamento das empresas na estabilidade financeira, o FSB receberá a missão de continuar a explorar riscos sistêmicos e "considerar opções" nesse tema.

Depois do encontro na Turquia, o G-20 anunciará que sua próxima cúpula será em Hangzhou, na China, em setembro do ano que vem.

Valor econômico, v. 16 , n. 3882, 13/11/2015. Internacional, p. A8