Título: Brasil precisa se comprometer com a inovação
Autor: Andrade, Robson Braga de
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2011, Opinião, p. 19

Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

O cenário externo desfavorável e as incertezas sobre os impactos da crise nos Estados Unidos e na União Europeia reforçam a convicção de que o Brasil precisa investir pesado em inovação. Exigência do mercado e dos consumidores, a inovação reduz os custos, aumenta a produtividade e amplia a oferta de produtos e serviços. Com isso, melhora a competitividade das empresas e a capacidade de o país conquistar mercados, gerar melhores empregos e elevar a renda real da população, criando um círculo virtuoso de prosperidade e bem-estar social.

É por essas razões que a busca incessante pelo conhecimento e o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos de estímulo ao desenvolvimento tecnológico estão entre as prioridades da indústria brasileira. Reconhecemos que o aumento da taxa de inovação depende da disposição das empresas em elevar os investimentos em pesquisa e tecnologia.

Temos dado passos importantes nessa direção. Criamos a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), um fórum cujo principal desafio é estimular o investimento privado em atividades inovadoras e estabelecer o diálogo permanente entre a indústria, o governo e os centros de conhecimento.

Durante o 4º Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria, que a CNI realizou em 3 de agosto passado, em São Paulo, reafirmamos o compromisso de despertar o espírito inovador no setor privado. Mantemos o ambicioso objetivo anunciado em 2009 de dobrar o número de empresas inovadoras em quatro anos. Faremos investimentos expressivos para termos, em 2013, cerca de 60 mil empresas que revolucionam produtos e processos ou agregam conhecimento tecnológico.

A meta é factível. Entretanto, os empresários não conseguirão alcançá-la sozinhos. Por isso, propomos ao Brasil uma agenda capaz de criar ambiente mais favorável à inovação.

Construída a partir da experiência das empresas brasileiras e das estratégias bem-sucedidas de outros países, a agenda sugere o aperfeiçoamento da legislação de apoio à inovação e da articulação entre as políticas de desenvolvimento tecnológico e de comércio exterior.

Destaca que é fundamental melhorar a qualidade da educação e formar capital humano qualificado, especialmente nas áreas de engenharia, ciências exatas e cursos técnicos.

Outras medidas importantes são a melhoria do sistema de registro e proteção à propriedade intelectual e o apoio aos projetos inovadores das pequenas e médias empresas e à internacionalização da indústria nacional. A agenda propõe ainda a coordenação e a articulação de ações dos setores público e privado que ajudem o país a atrair centros de pesquisa e desenvolvimento de empresas estrangeiras e a criação de programas setoriais efetivos, que definam metas e objetivos pactuados entre o governo e os empresários.

A agenda da inovação é mais uma contribuição da indústria ao debate sobre o futuro do Brasil. Sua implementação depende do estreitamento do diálogo e de alianças entre os empresários, o governo, a academia e os centros de conhecimento. A articulação do Movimento Empresarial pela Inovação (MEI) e o lançamento da nova política industrial, que reconhece a importância da inovação e do papel da indústria no desenvolvimento, representam avanços significativos para a construção dessas parcerias.

Mas, para o país, que já conquistou o posto de oitava economia do mundo, ser reconhecido pela capacidade de inovar é preciso remover obstáculos como a infraestrutura precária, a elevada carga tributária, as altas taxas de juros e o excesso de burocracia. Tais gargalos, que se mantêm há décadas, combinam-se agora com a supervalorização do real frente ao dólar, que compromete várias atividades e fecha os mercados ao produto nacional.

A agenda do país é complexa. Exige urgência e obstinação nas ações de combate aos antigos problemas e nas medidas que ajudem o Brasil a se consolidar como uma das principais economias do mundo. Os desafios são muitos e a nossa capacidade de vencê-los depende da nossa ousadia em inovar.