Título: Embaixador agora apoia a rebelião
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2011, Mundo, p. 20

O embaixador líbio no Brasil, Salem Abdullah Al-Zubaidi (foto), mudou de lado e anunciou que continuará no cargo até que alguém o substitua. Ele, que até dias atrás defendia Muamar Kadafi, convocou ontem a imprensa para declarar lealdade ao Conselho Nacional de Transição (CNT), a coalizão que representa politicamente a rebelião contra o ditador. O Ministério das Relações Exteriores informou que, enquanto um novo representante não for designado oficialmente pelo Estado líbio, Al-Zubaidi será reconhecido como representante legal de Trípoli.

O anúncio do embaixador foi rejeitado por alguns funcionários da representação diplomática e por cidadãos líbios contrários a Kadafi. Eles se somaram às 30 pessoas que, entre sexta-feira da semana passada e a última quarta-feira, ocuparam a embaixada, de onde o diplomata havia se retirado por se sentir ameaçado. Al-Zubaidi disse que sua decisão foi tomada após uma longa reflexão e de conversas mantidas com vários colegas embaixadores.

"Cheguei à conclusão de que o povo líbio está ao lado do CNT. Portanto, quero declarar a minha lealdade ao Conselho e continuar como embaixador da Líbia no Brasil", afirmou. Em fevereiro, em outro encontro com jornalistas, o embaixador tinha sugerido que a revolução liderada pelo CNT teria ingredientes distintos da insatisfação popular com o regime. "Ficou nítido que o objetivo não é apenas um pedido de reformas, mas uma tentativa de promover a divisão do país e ameaçar a unidade nacional", denunciou. O diplomata chegou a afirmar que a rede terrorista Al-Qaeda estaria infiltrada no movimento, com a expectativa de promover um golpe de Estado.

Repúdio "Seis meses atrás, o embaixador disse que o pessoal do CNT estava errado, que era ligado à Al-Qaeda, que não prestava. Agora, vem dizer que "entendeu" que eles "estão a favor do povo", e que ele próprio está "com o povo". Ele mente como o Kadafi", reclamou o empresário líbio Mohamed El-Zwei, que participou da vigília na embaixa.

El-Zwei lembrou que, na semana passada, seguranças do diplomata atacaram os ocupantes da embaixada. Segundo o empresário, o CNT não manterá um simpatizante de Kadafi como seu representante no Brasil, ainda mais um embaixador que "nem sequer é obedecido por outros funcionários da representação".