Título: Atentado contra a ONU mata 18
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2011, Mundo, p. 21

Extremista detona carro-bomba contra prédio da organização. Grupo islâmico assume autoria

A Organização das Nações Unidas (ONU) voltou ontem a ser alvo do terrorismo islâmico ¿ desta vez, na capital da Nigéria, Abuja. Por volta das 11h (7h pelo horário de Brasília), um extremista suicida avançou contra o portão do prédio e detonou o carro-bomba, explodindo várias partes da construção de cinco andares. Pelo menos 18 pessoas morreram e mais de 60 ficaram feridas. No local, funcionavam agências humanitárias ¿ como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com Ocilaje Michael, funcionário local da ONU, cerca de 400 pessoas trabalham na sede, que fica no setor diplomático da cidade, próximo à embaixada dos Estados Unidos. Ele relata que todas as pessoas que estavam no subsolo morreram no ataque. Após a explosão, a área foi isolada, e equipes de emergência começaram o processo de retirada de mortos e de feridos, à medida que conseguiam limpar os destroços com a ajuda de retroescavadeiras.

Em telefonema à emissora britânica BBC, um porta-voz da seita islâmica Boko Haram assumiu a origem do ataque. O grupo, responsável por vários atentados contra a polícia nigeriana, teria laços com a rede terrorista Al-Qaeda. Os integrantes da facção defendem uma versão restrita da sharia (lei islâmica) e veem a educação ocidental como algo pecaminoso.

O estudante de medicina nigeriano Usha Anega afirmou ao Correio que a ação de ontem atraiu uma série de dúvidas sobre as medidas de segurança no país. "Desde que o ataque em Abuja, no dia da independência da Nigéria, em outubro de 2010, os atentados à bomba têm sido cada vez mais frequentes no norte do país, e nada tem sido feito", criticou, ao mencionar as políticas do atual presidente, Goodluck Jonathan. Segundo ele, a facção Boko Haram cresceu rapidamente e desenvolveu métodos sofisticados em suas operações ¿ incluindo a explosão de um quartel-general da polícia, em 17 de junho passado, quando duas pessoas morreram. "As pessoas estão vivendo em meio ao medo e ao pânico, enquanto a polícia está profundamente envolvida em extorsões e em propina", comentou Usha. O universitário ressaltou a indignação do povo em relação à ações terroristas. "Isso não reflete o caráter da grande maioria dos nigerianos", defendeu.

Ato hediondo O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, denunciou "um ataque contra os que devotam suas vidas a ajudar outros". O presidente americano, Barack Obama, por sua vez, lembrou-se da participação do órgão no país. "A ONU tem trabalhado em parceria com o povo da Nigéria por mais de cinco décadas. Um ataque contra funcionários públicos nigerianos e estrangeiros demonstra a falência da ideologia que levou a este ato hediondo". Um funcionário da organização, que preferiu não se identificar, garantiu que no mês passado a ONU recebeu informações de que poderia ser alvo da Boko Haram. Após o alerta, a fonte informou que a segurança foi reforçada.

Para o encarregado da segurança na ONU, Greg Starr, as investigações determinarão como foi possível que o extremista suicida ultrapassasse duas barricadas. "Precisamos investigar como os autores do ataque conseguiram passar pelos diferentes níveis de proteção", disse.