Correio braziliense, n.19.097, 08/09/2015. Política, p. 2
Palanque esvaziado
Mesmo amparada por um forte esquema de segurança, a presidente Dilma Rousseff não conseguiu se desviar dos elementos da crise pela qual passa seu governo durante este 7 de Setembro. Isolada, a petista recorreu a um muro e a um pronunciamento na internet para evitar manifestantes, mas as medidas não foram suficientes para abafar os protestos. No palanque oficial, ela encarou o boicote de ministros do PMDB a e teve a presença de investigados por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF). Do outro lado da Esplanada dos Ministérios, e por todo o país, Dilma foi alvo de críticas, representada por uma boneca inflável com nariz de “pinóquio”, ao lado do boneco conhecido “Pixuleco”, que retrata o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como presidiário.
Ao chegar à tribuna, Dilma ouviu aplausos e gritos de “no meu país, eu boto fé, porque meu país é governado por mulher”, vindos de uma arquibancada preenchida por convidados do Palácio do Planalto. O desagravo, porém, não abafou as vaias, que foram ouvidas perto do palanque oficial quando a presidente pegou o microfone e declarou aberto o desfile. A petista foi alvo também de um “colheraço” no muro de ferro que a separava dos manifestantes. A paisagem antiDilma do lado de fora dividiu espaço com algumas faixas de apoio à presidente e críticas ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
No palanque oficial, além de Temer, somente o ministro da Pesca, Helder Barbalho (PA), dos seis ministros do PMDB, bateu ponto no evento cívico – em retrato fiel do momento de agravamento da crise política. Os presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, também não compareceram. O primeiro, está rompido com o governo desde o início do recesso parlamentar, em julho. Ministros petistas, por outro lado, foram em peso. O partido esteve representado por 10 titulares de pastas na Esplanada dos Ministérios.
Temer
O esvaziamento da cúpula do PMDB ocorreu quatro dias após o vice-presidente Michel Temer declarar, em um evento de empresários, que, se a popularidade de Dilma seguir como está, a petista não fica até 2018. A fala provocou mal-estar entre integrantes do governo que acusaram Temer de conspiração. No domingo, o vice-presidente tratou de elaborar uma nota em que se defende e refuta estar conspirando contra a presidente. A declaração do peemedebista ecoou entre ministros petistas na saída do desfile, que apoiaram a fala e procuraram minimizar a ausência da cúpula peemedebista e qualquer relação negativa de Dilma com Temer.
“Não vejo a presença ou ausência como qualquer significância política. Estava o vice, Michel Temer, houve ministros do PMDB e também do PT ausentes. Quem pôde estar aqui, esteve. A participação em um evento como esse não significa termômetro de nada”, avaliou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
O titular da Defesa, Jaques Wagner, também procurou não fazer da ausência de peemedebistas um sinal de agravamento da crise e disse não ter reparado em quais ministros estavam no local. “Não é uma obrigação (vir), até porque muitos ministros vão participar da cerimônia do Sete de Setembro nos seus estados, então, não tem nenhuma conotação. Pelo menos eu não dou nenhuma conotação a isso”, disse.
Wagner também procurou minimizar o esquema de segurança do qual Dilma foi alvo.
“Acho que a preocupação é sempre resguardar o desfile que é a data magna nacional, então, evidentemente, o dia da manifestação é normal. (...) Eu acho que organizar para que a cerimônia tenha a dignidade que ela tem, não acho nada de errado”, afirmou.