Título: Classe média paga a conta
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2011, Cidades, p. 37
Apesar dos constantes apagões, o consumidor de faixa intermediária receberá uma fatura 9,09% mais cara, um percentual bem acima do índice médio de 6,74% autorizado pela Aneel. O reajuste entrou ontem em vigorNotíciaGráfico
Desde ontem, começou a ser computado nas contas de luz dos consumidores do Distrito Federal reajuste médio de 6,74%, aplicado pela Companhia Energética de Brasília (CEB) com autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os consumidores de classe média devem preparar o bolso, pois esse é o grupo que mais sentirá a diferença no preço.
Quem está situado na faixa intermediária, gastando entre 201 e 300 quilowatts/hora por mês, será onerado com o maior percentual de alta, 9,09%.
Em contrapartida, os clientes mais perdulários, que despendem acima de 500 quilowatts/hora mensais, foram premiados com a alta mais moderada, de apenas 5,4%. O aumento da conta de luz será proporcional à quantidade de dias de utilização dos serviços sob a nova tarifa. O impacto no primeiro mês vai variar conforme a data de vencimento da fatura.
Para o especialista em finanças públicas José Matias Pereira, professor da Universidade de Brasília (UnB), o prejuízo ao usuário médio é claro. "Essa elevação atinge em cheio as famílias com nível de renda um pouco maior. Está-se penalizando as pessoas de classe média, principalmente do estrato de renda B", sentencia. Já os percentuais de reajuste para as demais faixas de consumo (veja Quadro) são considerados razoáveis pelo especialista. "De uma maneira geral, o aumento está sendo mais ou menos homogêneo", afirma.
José Matias Pereira cobra mais eficiência por parte da CEB. "O importante é discutir a qualidade dos serviços que a concessionária vem oferecendo à população. Quedas de energia, pessoas levando prejuízo com queima de computadores e outros aparelhos têm sido uma coisa sistemática. O que se espera é que junto com a elevação de preços venha a melhora"
Críticas O economista Roberto Piscitelli, também professor da UnB, critica a alta mais pesada para uma faixa de consumo. "No Brasil existe uma política totalmente inapropriada de beneficiar uns em detrimento de outros. Se determinadas parcelas da população precisam de benefícios, o Estado deve fazer transferências diretas e não provocar distorções no sistema de preços", dispara.
A atriz Sanântana Paiva Vicêncio, 27 anos, que divide um apartamento com três pessoas na região central de Brasília, está inserida precisamente na faixa de consumo que será a mais prejudicada pelo reajuste da CEB. De acordo com ela, o consumo médio de energia em sua casa é de 226 quilowatts/hora mensais. "A conta vem uns R$ 80. Mas esse aumento é péssimo", comenta ela, que não entende por que usuários como ela terãoum reajuste acima da média.
De acordo com a assessoria de comunicação da CEB, a empresa não está apta a explicar as diferenças no percentual de reajuste por faixas de consumo. A empresa alega que o cálculo é inteiramente de responsabilidade da Aneel. No fim do dia de ontem, a Companhia Energética de Brasília divulgou nota à imprensa em que responsabilizava a Eletrobras Furnas, empresa de transmissão ligada ao governo federal, por grande parte dos apagões ocorridos em 2011 no DF.