Pelo ajuste e contra impeachment, Dilma oferece 5 ministérios ao PMDB

 

Vera Rosa / Adriano Ceolin / Daniel Carvalho 

O Estado de São Paulo, n. 44535, 23/09/2015. Política, p. A4

 

A presidente Dilma Rousseff decidiu oferecer cinco ministérios ao PMDB para atrair o apoio da legenda, aprovar o ajuste fiscal e barrar um possível processo de impeachment. Para tanto, sacrificou uma das principais pastas do PT, a Saúde, o que gerou descontentamento no seu partido. Ministério com o maior orçamento da Esplanada, é comandado pelo PT desde o primeiro mandato de Dilma. Ele é ocupado atualmente por um afilhado do ex-presidente Lula, Arthur Chioro.

A opção da presidente foi acalmar o PMDB diante da crise política. Assim, o Palácio do Planalto ofereceu dois ministérios à bancada do partido na Câmara e dois aos parlamentares do Senado. Um quinto ministro seria indicado pelos peemedebistas das duas Casas.

Se esse novo arranjo for oficializado, o principal partido aliado e fiel da balança neste momento de crise política, deverá ficar com cinco ministérios na reforma - atualmente tem seis. Dilma manterá, pela cota do Senado, Kátia Abreu na Agricultura, que a partir de agora abrigará também o Ministério da Pesca. Além disso, Eduardo Braga continuará em Minas e Energia.

Pela Câmara, além da Saúde, o PMDB ganharia mais uma pasta a ser criada a partir da fusão de Portos com Aviação Civil. Essa pasta de infraestrutura teria à frente Eliseu Padilha, homem de confiança do vice-presidente Michel Temer, conforme sinalizou a presidente nas conversas de ontem.

Apesar disso, deputados apresentaram outros nomes para essa vaga, como José Priante (PA), primo do senador Jader Barbalho, Mauro Lopes (MG), Celso Pansera (RJ) e Newton Cardoso Júnior (MG).

Embora o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tenha dito que não indicaria ninguém, Pansera, um dos nomes lembrados pela bancada, é seu aliado. O deputado foi citado pelo doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, como "pau mandado de Cunha". Afilhado de Temer e de Cunha, Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Câmara, deve seguir no Turismo. Essa seria a indicação de consenso das duas Casas.

Petistas

Na tentativa de resistir, Arthur Chioro se reuniu no Palácio do Planalto com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Diante do mal-estar causado no PT com a notícia da mudança, um emissário de Dilma chegou a telefonar para Chioro, à tarde, para dizer que o governo precisava ceder o posto ao PMDB. A medida era necessária, segundo esse interlocutor, para manter o partido na base de sustentação no Congresso, dar sinais positivos ao mercado e "conter a alta do dólar". Chioro foi indicado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, com as bênçãos de Lula. As informações sobre sua saída provocaram revolta no PT e nova divisão no PMDB.

Mesmo com a decisão do vice-presidente Michel Temer de não indicar ministros para a equipe de Dilma, o PMDB mostrou a divisão entre seus grupos. O líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), avisou que a bancada queria a Saúde. A partir daí, os articuladores políticos do Planalto começaram a negociar com ele a indicação do PMDB do Rio, em consórcio com deputados do partido em Minas.

O primeiro nome apresentado para ocupar o ministério foi o do deputado federal Saraiva Felipe (PMDB-MG), mas Dilma o vetou. Ontem à noite, o governo discutia os outros dois nomes indicados pelos deputados peemedebistas - Manoel Júnior (PB), aliado de Cunha, e Marcelo Castro (PI), que trocou acusações com o presidente da Câmara por causa da reforma política.

Coma s mudanças, o governo pretende organizar sua relação com o PMDB e depois partir para tentar reaglutinar outros partidos da base aliada. Os novos arranjos vão tratar de siglas como o PSD, do ministro Gilberto Kassab (Cidades), o PTB e o PP.

As mudanças têm no horizonte frear o avanço do impeachment no Congresso e aprovar o pacote fiscal que inclui, entre outros pontos, a volta da CPMF. 

 

Presidente reconhece que precisa abrir espaço a aliados



Em jantar com a cúpula do PC do B na noite de anteontem, a presidente Dilma Rousseff reconheceu que precisa abrir espaço para os aliados por meio de cortes de cargos do PT no governo. A conversa aconteceu no Palácio do Alvorada, em Brasília.

Onze integrantes do chamado comitê de crise do PC do B marcaram presença. Pelas bancadas do Congresso, compareceram a senadora Vanessa Graziotin (AM) e os deputados Orlando Silva (SP), Jandira Feghali (RJ) e Luciana Santos (PE), que é também presidente nacional da sigla.

Além dos parlamentares, o ministro Aldo Rebelo, da Ciência e Tecnologia, e os dirigentes Haroldo Lima e Renato Rabelo foram ao jantar. “Fez uma análise de todas as peças da coalizão. Ela tem consciência que precisa começar o governo do zero”, disse um dos convidados.

Falando abertamente sobre a possibilidade de sofrer um processo impeachment, Dilma concluiu que depende do apoio do PMDB. “Apesar do momento difícil que ela passa, Dilma demonstra confiança e acha que pode contar com o PMDB de fato”, afirmou um dos presentes.

Segundo outro participante, Dilma espera até a colaboração de setores da oposição.
Na avaliação geral dos presentes, o PSDB está dividido e preciso buscar apoio nos setores menos empenhados no impeachment.

Nesse sentido, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi citado como exemplo. Dilma, contudo, demonstrou-se “magoada” com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A presidente se disse decepcionada com o fato de FHC ter pedido para ela renunciar.

A manutenção de Aldo na pasta de Ciência e Tecnologia não entrou discussão, segundo os presentes. O partido, contudo, não acredita que o PC do B perderá sua cadeira na Esplanada dos Ministérios. As parlamentares da bancada feminina pediram a Dilma que ela não acabe com a Secretaria de Política para as Mulheres na reforma ministerial.



Reforma deve fortalecer novo núcleo petista



BRASÍLIA

As fusões de ministérios previstas na reforma administrativa da presidente Dilma Rousseff podem resultar no fortalecimento de dois ministros petistas bastante ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo informações de congressistas do PMDB que estiveram em reuniões e conversas no Palácio do Planalto.

O desenho, ainda em estudo, é transferir o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, para o Ministério das Comunicações.

Essa medida unificaria o controle da distribuição de verbas publicitárias do governo com as estratégias e políticas de concessões de emissoras de rádio e televisão.

Edinho foi o tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado e fortaleceu os laços com a presidente. Ele assumiu a Secom em março deste ano após a saída de Thomas Traumann.

Hoje nas Comunicações, Ricardo Berzoini migraria para a Secretaria-Geral da Presidência, onde abrigaria as funções da Secretaria de Relações Institucionais. ASRI não tem ministro desde a saída do deputado federal Pepe Vargas (PT-RS), em abril, quando acabou integrada à Vice-Presidência.

Atual titular da Secretaria-Geral, o petista Miguel Rossetto, do PT do Rio Grande do Sul e ex-coordenador de campanha de Dilma, ganharia como consolo o comando do Incra, autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. / A. C. e V. R.