Indústria recua mais que o esperado e acumula queda de 5,3% em 12 meses

 

Autor: Idiana Tomazelli

O Estado de São Paulo, n. 44515, 03/09/2015. Economia, p. B1

 

A indústria acumula queda de 5,3% na produção em 12 meses até julho, o pior resultado nesse tipo de comparação desde dezembro de 2009, informou ontem o IBGE. Só em julho, a atividade levou um tombo de 1,5% em relação a junho, resultado que nenhum especialista esperava. 

O mais pessimista projetava retração de 0,6%, segundo pesquisa da ‘Agência Estado’. A queda mensal foi a maior desde dezembro de 2014, quando uma série de férias coletivas derrubou a produção em 1,8% em comparação ao mês anterior. Hoje, a demanda das famílias cada vez menor, a queda nos investimentos e a crise política são os fatores que mais prejudicam a indústria, segundo analistas. Com o dado divulgado ontem, a produção de agosto também poderes e surpresas desagradáveis, afirmou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. “Agosto tem vários elementos negativos que atrapalham, como a parte política. Tivemos pauta-bomba (projetos que elevam despesas do governo),enfraquecimento do ministro da Fazenda (Joaquim Levy), a saída do vice-presidente (Michel Temer) da articulação política. 

Isso tudo tende a jogar contra.” Sem a esperada melhora no segundo semestre, a indústria caminha para um resultado próximo ao observado em 2009 (-7,1%), quando a economia sofria efeitos da crise global, correndo o risco de ser até pior, segundo Vale. A queda recorde de 27,8% na produção de bens de capital em julho em comparação a igual mês do ano passado, sempre cedentes na série iniciada em 2003, reforça essa visão. 

“É preocupante, porque a participação dos investimentos no PIB já está no menor nível desde 2007”, comentou a economista Jessica Strasburg, da CM Capital Markets. “Estava esperando um fundo do poço em junho, e agora parece que isso ficou mais para a frente.” Vale também acha que o pior não passou: “Estamos na metade do ciclo recessivo, tem muita coisa ainda para ver, o pior não passou. A indústria está trazendo resultados negativos a cada mês e, provavelmente, terá novas quedas inclusive em 2016”. Demanda. As atividades voltadas ao mercado interno são as que têm mostrado maior redução de ritmo, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. “A indústria está piorando mês a mês”, disse. “Essa é uma característica bem marcada de setores que estão com estoques acima do padrão habitual. Ainda não há um ajuste para setores importantes, como veículos.” 

O aumento do desemprego e a menor renda disponível, seja porque as famílias estão comprometidas com dívidas ou porque os preços estão mais elevados, são os principais freios à demanda. Com isso, a produção de alimentos e de bebidas caiu 6,2% em julho. Já os bens de duráveis, que incluem carros e eletrodomésticos, mostraram reação no mês.Mas o resultado deve ser visto com cautela, pois não está nem perto de compensar a perda de mais de 25% dos nove meses anteriores.

 

Poço sem fundo da indústria

 

Autor: Leandro Padulla

Segundo o IBGE, a produção industrial caiu 1,5% em julho. Tanto a indústria extrativa quanto a de transformação contribuíram negativamente para o desempenho geral, com quedas praticamente iguais. No caso da indústria extrativa, após um primeiro semestre de expansão, a extração de petróleo e de minério de ferro perde força no segundo semestre. Já a indústria de transformação voltou ao nível de abril de 2009, sem sinais de melhora.

O detalhamento da pesquisa mostrou que, com exceção de bens de consumo duráveis, os demais segmentos recuaram. Porém, a forte melhora da produção de bens de consumo duráveis ocorreu por causa da base de comparação deprimida em função da paralisação de algumas montadoras em junho. Para agosto já temos notícias de novas paradas, o que torna o cenário ainda pior. A forte alta nos bens duráveis não foi suficiente para levar a indústria para o terreno positivo e mostra quão disseminado está o enfraquecimento.

A julgar pelo resultado, o que podemos esperar no futuro próximo? 

Quando examinamos os dados de confiança do empresário vemos o indicador no nível mais baixo da série histórica e o nível de estoques em situação crítica. Esses fatores, aliados a uma queda intensa da demanda, geram um quadro desafiador. A indústria deverá piorar antes de melhorar. 

A consequência será vista no PIB, que deverá encerar 2015 com queda em torno de 3,0%, com a indústria dando a maior contribuição negativa.