Título: Brasil não crê em retaliações
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2011, Mundo, p. 16

Ministro das Relações Exteriores diz que insurgentes vão cumprir contratos com empresas brasileiras, mas companhias têm receios

o Brasil descartou o risco de sofrer retaliações econômicas de um eventual novo governo da Líbia, apesar de o Palácio do Planalto não ter apoiado a rebelião. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou ontem que recebeu garantias de que os contratos firmados com empresas brasileiras serão todos honrados. "Acho que essas represálias não vão ocorrer", disse o chanceler quando questionado se estava preocupado com a possibilidade de um governo formado pelos rebeldes na Líbia tentar punir o país.

Segundo Patriota, representantes rebeldes reuniram-se em Benghazi, no leste da Líbia, com o embaixador brasileiro no Egito, Cesario Melantonio Disseram ter grande apreço pela contribuição do Brasil ao desenvolvimento de seu país e prometeram que os contratos firmados serão cumpridos. "Essa é a nossa preocupação principal e não temos motivo para duvidar dessa palavra", afirmou o ministro.

Desde segunda-feira, empresas brasileiras informam que preferem esperar o desfecho da crise política na Líbia para decidir sobre quando e como voltarão a atuar na região. As construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão acompanham a situação para definir ações futuras. A Odebrecht teve suas operações suspensas desde que a crise eclodiu, em fevereiro. Na ocasião, a Queiroz Galvão tirou seus funcionários do país, incluindo 130 que viviam em Benghazi.

Patriota lembrou que a Queiroz Galvão está envolvida com grandes projetos de saneamento urbano naquela cidade, enquanto a Odebrecht tem, como principal obra, a ampliação do aeroporto na capital Trípoli.

Próximos de encerrar 42 anos da ditadura de Muamar Kadafi, líderes rebeldes reforçaram esta semana as preocupações de que a Líbia poderia punir multinacionais de países como Brasil, Rússia e China, que não deram suporte ao movimento de oposição ao regime. Mais de 30 governos, incluindo os Estados Unidos, reconheceram o Conselho Nacional de Transição como representante legítimo da Líbia.

Problemas Executivos da petrolífera líbia Agoco, que está do lado dos rebeldes, insinuaram que um governo liderado pelos rebeldes poderia ter "problemas políticos" com países que não lhe deram apoio. A China respondeu pedindo que a Líbia protegesse seus investimentos, reforçando que o comércio de petróleo entre eles beneficiava os dois países.

Apesar disso, o Brasil manteve a neutralidade e até ontem reconhecia o governo de Kadafi. O país se absteve, em março na votação em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução autorizando o uso de força para impor uma zona de exclusão aérea e proteger a população civil. Com o avanço da rebelião para Trípoli, líbios opositores do regimes tomaram a embaixada do país em Brasília, na sexta-feira, e hastearam a bandeira do movimento.

Eles criticaram o fato de o governo brasileiro não ter apoiado fortes sanções contra o ditador. O grupo de líbios que vivem no Brasil cobra o apoio do país ao novo governo de transição e diz que só deixará a representação depois de um posicionamento oficial da presidente Dilma Rousseff em relação à crise.