Título: Armas de fogo respondem por 76% dos homicídios
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Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2011, Cidades, p. 28

Crimes com arma de fogo são cada vez mais comuns no Distrito Federal. Dados de um estudo técnico sobre o assunto, divulgado recentemente pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), mostram que quase 76% dos homicídios praticados em 2009 foram com esses artefatos. Em média, 25,4 vítimas para cada 100 mil habitantes, o que revela um crescimento desse índice (veja quadro). Em 2008, os assassinatos por arma de fogo representaram 71,3% do total de mortes ou 24,1 vítimas para cada grupo de 100 mil pessoas.

Levantamento da Secretaria de Segurança Pública, obtido com exclusividade pelo Correio, mostra que, de janeiro a maio deste ano, foram apreendidas mil armas de fogo nas diversas cidades do DF. Desse total, 697 eram revólveres em mãos de bandidos e de pessoas não habilitadas ao porte de arma. As pistolas ocuparam o segundo lugar no número de artefatos recolhidos: 193. Um total de 78 escopetas, metralhadoras, submetralhadoras e rifles ¿ todos com alto poder de destruição ¿ também foram tirados das ruas.

Na manhã de ontem, uma pistola calibre .12 foi recuperada por profissionais do 16º Batalhão da Polícia Militar de Brazlândia. Ela estava com oito munições. A ação aconteceu na Quadra 58 da Vila São José. Três pessoas foram levadas para a delegacia da área acusadas de estarem traficando drogas em frente a uma residência. Um dos envolvidos era menor de idade, encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).

Segundo o tenente do 16º BPM de Brazlândia Hildon César Fernandes, que participou da ação, normalmente, apreensões de armas estão associadas a outros crimes, principalmente ao de tráfico de drogas e ao de tentativa de homicídio. "Desde o começo do ano, com base em dados da corporação, a nossa região foi a que mais efetuou apreensão de armas de fogo e drogas no Distrito Federal", revela. "Pela minha experiência e rotina, posso dizer que entre 15 e 15 dias apreendemos, pelo menos, uma arma de fogo na cidade", pontuou.

Vidas perdidas Um único disparo tirou a vida do motorista de ônibus Elinaldo Ribas Pires, 48 anos, há quase um ano, no Itapoã. Era um dia normal de trabalho, quando dois homens, um deles adolescente, anunciaram um assalto. Após recolherem dinheiro e pertences do cobrador, um deles atirou contra o motorista, que não resistiu ao ferimento no olho esquerdo. A esposa de Elinaldo, a estudante Júlia Cristina da Silva, 23 anos, relembra com pesar a morte do marido. "Cada vez mais armas estão nas mãos de bandidos, mas cabe à polícia aumentar a fiscalização. Não podemos assistir a pessoas serem assassinadas brutalmente todos os dias como o meu marido. É necessário saber a origem dessas armas e também para onde elas vão. Não vejo esse controle acontecer", desabafa.

Embora especialistas defendam a política de desarmamento do governo federal, como um dos instrumentos mais eficientes para diminuir o número de armas em circulação e reduzir a criminalidade, Júlia Cristina se diz descrente em relação à iniciativa. Em contrapartida, ela critica a libertação do adolescente envolvido na morte do marido. O garoto ficou apenas um mês apreendido. "O sentimento de impunidade é grande, mas quero justiça. Nos Estados Unidos, pessoas com idade inferior a 18 anos respondem como qualquer um pelo crime cometido. Acho que aqui deveria ser assim também", argumenta.

Na área de Sobradinho II, entre janeiro e julho deste ano, agentes da 35ª Delegacia de Polícia apreenderam 22 armas de fogo. Quatorze pela Polícia Civil e oito pela Militar. Segundo o delegado-chefe Wellerson Gontijo, o recolhimento tem relação estrita com o trabalho da polícia. "Quanto mais arma de fogo a gente apreende, maior o esforço da polícia. Ultimamente, temos prendido muitos traficantes. Eles costumam estar armados, portanto há várias apreensões durante essas ações. As armas são usadas tanto para proteger uma boca de fumo, por exemplo, quanto para outros crimes. Então, quando se apreende uma arma, evitamos outras práticas delituosas."