Marta diz que se arrepende de aumento de impostos

Fernando Taquari e Cristiane Agostine 

02/12/2015

Pré-candidata à Prefeitura de São Paulo em 2016, a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (PMDB) aposta na defesa da redução de impostos para micro e pequenos empresários para tentar descolar-se do apelido de "Martaxa", que marcou sua passagem pelo governo municipal, entre 2001 e 2004. Onze anos depois de deixar a prefeitura, a senadora afirma que errou ao criar as taxas de lixo e de iluminação em sua gestão e atribui ao atual prefeito, Fernando Haddad (PT), a ideia de aumentar os tributos. Na época, Haddad integrou a equipe responsável pelas taxas.

No Senado, Marta transformou a ampliação do Supersimples em uma das principais bandeiras de seu mandato, ao lado da defesa da renegociação da dívida de prefeituras e Estados com a União. As duas propostas deverão ser usadas como vacinas para minimizar as críticas às taxas de lixo e de iluminação na prefeitura.

"Eu errei com a criação das taxas. Me arrependo", afirma Marta ao Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor. "Eu fui responsável porque era prefeita, mas a ideia foi do Haddad. Os anos passaram, amadureci e me arrependo", diz. O prefeito, que tentará um novo mandato em 2016, participou da formulação da reforma tributária da gestão Marta, aprovada no fim de 2002, quando era chefe de gabinete do então secretário de Finanças, João Sayad.

As duas taxas foram criadas depois de um aumento elevado do IPTU na cidade, o que gerou ainda mais críticas à então prefeita. "Ficou muito pesado para a população. Foi um erro eu não ter percebido isso, mas aprendi com a experiência. É preciso ter mais critério para mexer no bolso dos outros", diz Marta.

A pré-candidata à prefeitura paulistana é relatora do projeto que amplia o Supersimples para beneficiar um número maior de micro e pequenas empresas com uma tributação menor. Marta articula a votação da proposta no Senado na próxima semana e espera vê-la sancionada pelo governo até 2016. (veja mais nesta página).

O projeto deve ser exibido em 2016 junto com a proposta de renegociação da dívida de Estados e municípios com a União, que Marta também relatou no Senado. O acordo sobre a mudança no indexador da dívida deve entrar em vigor a partir de janeiro do próximo ano e poderá reduzir a dívida da capital paulista de R$ 62 bilhões para R$ 36 bilhões, aumentando a capacidade de investimento.

A renegociação da dívida, no entanto, é uma das principais bandeiras usadas por Haddad para defender sua gestão e a ex-prefeita sinaliza que disputará essa marca. "Fui a relatora do projeto sobre o indexador da dívida e me empenhei muito para aprovar. Quando fui prefeita vi a inadequação desse acordo que o (ex-prefeito Celso) Pitta fez com o (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso, porque a cidade foi a mais prejudicada. Sempre tive essa preocupação porque era muito injusto", diz. "Foi uma oportunidade fazer a defesa [no Senado] de algo que foi minha bandeira há bastante tempo", afirma. "Da mesma forma como Haddad diz ter se empenhado, eu, o [José] Serra e o [Gilberto] Kassab também nos empenhamos para aprovar essa mudança. A renegociação chegou em um momento que a discussão estava mais madura e a federação de municípios mais forte."

Marta diz ainda que a mudança do indexador da dívida de São Paulo poderia ter sido negociada antes, mas foi postergada pelo prefeito para evitar um conflito com a presidente Dilma Rousseff - com quem a senadora, ex-ministra e ex-petista rompeu neste ano. "Haddad não queria brigar com a Dilma porque ainda havia possibilidade de receber recursos para o Minha Casa, Minha Vida. Já o Eduardo Paes (prefeito do Rio) foi mais rápido, entrou na Justiça e começou a pagar a dívida do jeito que deveria ser", diz. "Fiquei louca com isso".

Popular na periferia da capital, Marta tenta reduzir a resistência da classe média e alta à sua candidatura com essa defesa da redução de impostos para empresários e da ampliação da capacidade de investimento da cidade. Pré-candidata, a ex-prefeita tem visitado bairros e criticado o prefeito. "A situação de abandono da periferia é tamanha como nunca vi na vida. Mas não é só lá. Moro no Jardim Europa e na minha rua tem cinco buracos. Para onde vão os recursos? "

Valor econômico, v. 16 , n. 3879, 02/12/2015. Política, p. A11