Acordo entre BNDES e banco africano eleva potencial de exportações para o continente

Francisco Góes 

04/12/2015

Uma parceria em discussão entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da África (AFDB) deve aumentar o potencial de exportações de empresas brasileiras para o continente africano. O foco principal do BNDES na África até hoje foi o financiamento à exportação de serviços para obras de infraestrutura, engenharia e construção, modalidade na qual desembolsou US$ 3,7 bilhões desde 2007.

Agora, o banco tem interesse em ampliar operações envolvendo o setor privado africano e fazer cofinanciamento com o AFDB em projetos como infraestrutura e açúcar e álcool.

O AFDB também poderá fornecer cartas de crédito para ajudar a eliminar o risco dos exportadores brasileiros nas vendas de bens e equipamentos para empresas africanas. "Há instrumentos de financiamento de comércio que nós podemos trabalhar com o BNDES para permitir aos exportadores brasileiros se sentirem mais confortáveis ao identificar oportunidades na África", disse ao Valor o vice-presidente do AFDB, o ganês Solomon Asamoah.

Na semana passada, eleesteve no Brasil, onde participou de seminário no BNDES, o "Africa Day", reuniu-se com a Vale, empresa que receberá financiamento de US$ 300 milhões em Moçambique, e visitou o Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), em Piracicaba (SP). "Podemos desenhar instrumentos [financeiros] que podem reduzir o risco para empresas brasileiras, encorajando-as a participar do mercado africano", disse o executivo do AFDB, a maior instituição de desenvolvimento da África, controlada por 54 países do continente, além de outros países de fora da África, incluindo o Brasil.

Em 2010, o AFDB e o BNDES assinaram um memorando de entendimento que agora poderá evoluir para um plano de trabalho de setores que poderão ser apoiados. A atuação conjunta das duas instituições no segmento de cartas de crédito, para garantir exportações brasileiras para a África, pode resultar em um acordo específico.

Luciene Machado, superintendente da área de comércio exterior do BNDES, disse que o AFDB tem um programa de estímulo ao comércio em que a instituição africana confirma cartas de crédito de outros bancos. Assim, o AFDB pode ratificar cartas de crédito de outras instituições bancárias africanas que não teriam como operar diretamente com o BNDES. A parceria com o AFDB também pode ampliar o valor das cartas de crédito de bancos africanos com os quais o BNDES já tem relação.

O BNDES tem linhas de crédito com 12 bancos africanos que somam entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões. São recursos para garantir exportações brasileiras para a África. Nessas operações, os bancos africanos assumem o risco do tomador final (a empresa africana). BNDES e ADFB também podem atuar no co-financiamento de concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs), disse Luciene.

De 2007 a 2015, o BNDES desembolsou US$ 3,7 bilhões em financiamentos no continente africano, basicamente para Angola, país que concentra as operações no continente, e para Moçambique. Mais recentemente surgiram operações com Gana.

O desembolso nesses oito anos representou 21,2% dos US$ 17,45 bilhões financiados pelo banco, no total, nas operações de pós-embarque, que financiam a comercialização de bens e serviços brasileiros. É uma modalidade utilizada para apoiar exportações de empresas brasileiras para obras de infraestrutura. Nessas operações, o BNDES corre o risco político dos países, que são devedores dos financiamentos concedidos pelo banco.

A contratação de dívida pública pelos países africanos para projetos de infraestrutura tem limite, disse Luciene. Assim, os governos da África se tornam mais resistentes, nos dias atuais, a assumir créditos em grandes proporções para bancar projetos de infraestrutura. Essa situação leva o BNDES a buscar novas possibilidades no continente em acordo com bancos africanos, como o AFDB. Um caminho é ampliar a operação com o setor privado africano, financiando exportações de bens e equipamentos brasileiros, como caminhões, tratores e implementos agrícolas, para empresas africanas.

Asamoah disse ver enorme potencial de crescimento em outros países africanos nos próximos cinco anos, incluindo Moçambique, Tanzânia, Gana e Nigéria, entre outros. O BNDES espera ver mais empresas brasileiras inseridas em um maior número de países na África, assegurando a diversificação geográfica.

Valor econômico, v. 16 , n. 38397, 04/12/2015. Brasil, p. A2