Título: PT reforma estatuto e quer limitar as prévias
Autor: Rothenburg, denise
Fonte: Correio Braziliense, 30/08/2011, Política, p. 4

Ideia é que escolha dos candidatos seja coordenada pelos diretórios para frear a apresentação de nomes que não sejam competitivos

Depois de oito anos e oito meses comandando o país, o PT se prepara para mudar o seu estatuto e aprovar um documento de apoio irrestrito ao governo Dilma Rousseff. Uma das propostas é impedir que qualquer correligionário possa, no futuro, apresentar-se e exigir uma prévia para a escolha de candidatos nos mais variados níveis. A proposta que saiu da Comissão de Reforma do Estatuto (CRE) prevê a realização de prévias apenas para candidaturas a presidente da República, a governador e a prefeito. Não está prevista prévia para mandato de senador. E, ainda assim, onde o PT é governo, as prévias serão coordenadas por instância superior ¿ ou seja, o Diretório Estadual e ou Nacional. O diretório em questão pode, ainda, com o apoio de dois terços de seus membros, rejeitar um pedido de prévia e realizar a escolha de determinado candidato por reunião de delegados.

As mudanças no regimento interno foram propostas pela CRE, comandada pelo deputado Ricardo Berzoini, ex-presidente da legenda, e já foi alvo de críticas por parte da esquerda petista. "Há quem diga que queremos transformar o PT num partido de quadros e não de massas. As propostas que estão aí podem ser alteradas. Basta que a maioria queira", diz Berzoini.

Além de restringir as prévias, a comissão quer acabar com as filiações de pessoas que não têm a menor identidade com o partido. Pelo que está proposto, quem quiser se filiar ao PT terá que passar por uma "aula", na qual o interessado será informado do que é o PT, seu estatuto e sua história. As contribuições dos filiados também devem mudar. Em vez de um pagamento anual, a previsão é que o correligionário comum pague taxa semestral, com valor fixo a ser definido pelo Diretório Nacional.

Os petistas querem ainda mudar a duração dos mandatos de seus dirigentes. Em vez de três anos, a proposta quer ampliar o tempo para quatro. "Assim, teremos condições de avaliar uma direção num ciclo político completo, com eleições municipais estaduais e federais", diz Berzoini. "Quanto às palestras sobre o PT, as pessoas precisam saber em que instituição estão se filiando. Há lugares nos quais, quando chega a temporada de prévias, o partido recebe uma leva de filiados que não têm militância no PT", afirma.

Divergências Fechar o documento não foi tarefa fácil, uma vez que os petistas resistiram a limitar as prévias, por exemplo. Terminou por vencer a tese de que seria desperdício de tempo fazer uma prévia para escolher um candidato a presidente, a governador ou a prefeito que não seja competitivo. Nos bastidores, há quem cite o fato de o senador Eduardo Suplicy (SP) ter pedido uma prévia para concorrer contra Luiz Inácio Lula da Silva à vaga de candidato a presidente da República.

As mudanças no estatuto serão analisadas a partir da noite desta sexta-feira, quando o PT abrirá seu 4º Congresso, com a presença do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, no Centro de Convenções Brasil XXI, próximo à Torre de TV, em Brasília.

Na ocasião, será apreciado um documento que assegure apoio irrestrito do partido às medidas que o governo anunciou no sentido de conter os gastos públicos e preparar o Brasil para enfrentar a crise econômica internacional. Na quinta-feira, os petistas farão ainda um seminário internacional para discutir a economia mundial e a recessão que se abate sobre a Europa e os Estados Unidos. Na plateia, haverá uma delegação do partido comunista chinês e representantes de outras 19 nações.