'O Brasil continua sendo um bom negócio'

 

ADRIANA FERNANDES

O Estado de São Paulo, n. 44524, 12/09/2015. Economia, p. B3

 

Apesar do aumento das incertezas depois que a Standard & Poor's retirou o grau de investimento, o Brasil continua sendo um bom negócio e não faltarão interessados para o programa de concessões, afirma o secretário de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda, Paulo Correa. Segundo ele, no curto prazo, aumentará a volatilidade, mas, com o ajuste no câmbio, os ativos estão alcançando preços convidativos. O secretário afirma que o governo continua perseguindo a meta de superávit para as contas públicas e que, para o País retomar o rumo do crescimento, é preciso resistir às vozes conservadoras que, por vezes, "tentam nos aprisionar no passado". A seguir, os principais trechos da entrevista.

 

O que pode ser feito para evitar que o País também perca o grau de investimento da Fitch e da Moody's?

Continuar trabalhando para reduzir os gastos no que for possível, buscar formas alternativas de receita e acelerar as medidas orientadas para aumentar a produtividade.

 

O Brasil continua um bom negócio para os investidores estrangeiros?

Sim. Com o ajuste cambial, os preços dos ativos estão se tornando muito atraentes. A volatilidade cambial atrapalha um pouco, mas vai passar. Num primeiro momento, há dois efeitos do rebaixamento: alguns fundos terão de se desfazer de títulos soberanos, em função de regulação local impedindo investimento em papéis que não sejam IG (investment grade). O outro efeito é o encarecimento do crédito externo para as empresas que usam o mercado internacional. No curto prazo, aumentará a volatilidade de certos ativos.

 

O programa de concessões será afetado?

Alguns fundos de pensão estrangeiros podem se ver proibidos de investir. Mas, fundamentalmente, não. Especialmente se continuarmos fazendo o dever de casa, perseguindo a meta (fiscal) de 0,7% do PIB. E há ativos muito bons, como no caso das geradoras que vão a leilão agora em outubro. Relação risco-retorno adequada, prazo de 20 anos e proteção contra a inflação. Alguns perguntam se a taxa de retorno não teria de mudar. Neste cálculo, a variável risco-Brasil cobre um período de janeiro de 1995 a maio de 2015. Em parte desse intervalo, o risco Brasil era bem maior que o atual. Nesse sentido o nível de risco país continua adequado.

 

As concessões ainda podem criar oportunidades de investimento?

Para que tenham êxito, no momento em que há escassez de recursos, será essencial tomar um cuidado extra para não criar constrangimentos desnecessários ao empreendedor, com particular atenção aos investidores e operadores estrangeiros. Nossa intenção, a médio prazo, é transformar as concessões em uma classe de ativo global, de longa maturação, baixo risco e retorno compatível com risco.

 

E a incerteza macroeconômica?

Conforme o ministro (Joaquim Levy) já disse, continuamos perseguindo a meta fiscal. Investidores em infraestrutura veem um horizonte de longo prazo, 25, 30 anos, e aí o Brasil continua um bom negócio. Além do mais, com o ajuste cambial, os ativos estão alcançando preços convidativos. Devemos nos concentrar em preparar bons projetos e simplificar as regras de participação ao máximo.

 

E quem fará as obras?

Novos empreendedores surgirão. Pequenos e médios locais. Alguns estrangeiros. O mercado demonstra muita capacidade de absorver ativos de algumas das grandes construtoras.

 

Quando o País retomará o rumo do crescimento?

Se persistirmos no caminho de criar oportunidades para os mais pobres e a classe média, ao mesmo tempo que criamos condições de concorrência para os jovens empreendedores, poderemos voltar a ter uma trajetória de crescimento sustentável e inclusiva. Mas, para isso, será necessário fortalecer os processos renovadores e criativos, o empreendedorismo e a competição. E resistir às vozes conservadoras que, por vezes, tentam nos aprisionar no passado. A Agenda Brasil pode ser uma grande oportunidade nessa direção.