Sanofi traz 1ª vacina contra dengue

Stella Fontes 

29/12/2015

A vacina contra a dengue desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi, a primeira a receber o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização no Brasil, deve estar disponível para venda no país até o fim do primeiro trimestre, disse ao Valor o vice-presidente da Dengue Company da Sanofi Pasteur, Guillaume Leroy.

Em todo o mundo, a farmacêutica francesa foi a primeira a obter registro para uso da vacina contra a dengue. Além do Brasil, México e Filipinas aprovaram recentemente o produto, de um total de 20 países tropicais ou subtropicais que já receberam pedidos de registro apresentados pelo laboratório.

Para chegar à rede privada de saúde, a Dengvaxia, que protege contra os quatro tipos do vírus, depende agora da definição do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed). Ao mesmo tempo, o laboratório está em conversas preliminares com o Ministério da Saúde para possível fornecimento do produto ao SUS e determinação dos grupos que terão prioridade em uma eventual campanha de vacinação.

"O registro sanitário concedido pela Anvisa é um passo-chave, resultado de mais de 20 anos de pesquisa", afirmou o executivo, referindo-se ao aval da agência publicado nesta segunda-feira no Diário Oficial da União. "Hoje [ontem] é um dia histórico para a Sanofi e para o país", acrescentou. O Brasil participou dos estudos globais de eficácia de fase 3 da vacina.

Conforme Leroy, já há produto preparado disponível para entrega ao Brasil, que neste ano registrou mais de 1,4 milhão de casos da doença. Com a informação do registro sanitário em mãos, a farmacêutica poderá iniciar a confecção da embalagem da vacina e enviar os primeiros lotes ao país a partir de janeiro.

A Sanofi investiu mais de € 300 milhões na instalação de uma fábrica dedicada à produção da vacina, em Neuville-sur-Saône, perto de Lyon, na França, com capacidade para 100 milhões de doses por ano. Diante da escala da unidade, explicou Leroy, a farmacêutica pode desenhar um modelo econômico que permite preços mais acessíveis para programas abrangentes de vacinação.

Um trabalho com modelagem matemática desenvolvido pela farmacêutica indica que, se a vacina for aplicada em até 20% da população brasileira em cinco anos, pode haver queda de 50% no número de casos de dengue registrados no país. Internacionalmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta a redução pela metade da mortalidade por causa da dengue até 2020. Por ano, segundo o órgão, 400 milhões de novos casos são registrados e a doença é endêmica em 128 países.

A vacina da Sanofi deve ser aplicada em três doses com intervalos de seis meses, em indivíduos com 9 a 45 anos, e diminui em 81% os casos de hospitalização. Além disso, tem 65,6% de eficácia média contra os quatro tipos de vírus. Conforme Leroy, a primeira dose já garante proteção contra a doença.

No início do mês, a Anvisa já havia liberado a fase três da pesquisa com a vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantã a partir de uma parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), iniciada em 2010.

O Butantan deu continuidade aos estudos iniciados pelo centro americano e chegou a uma vacina semelhante à de febre amarela, produzida a partir do vírus vivo atenuado e distribuída em pó, o que amplia seu prazo de validade. A última etapa dos estudos deve envolver 17 mil voluntários de três faixas etárias (2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59 anos), mas ainda não há prazo para que a vacina esteja disponível.

Em nota, a Anvisa informou que a decisão de fornecimento da vacina no SUS cabe ao Ministério da Saúde e "levará em conta fatores como a relação custo x efetividade e impacto orçamentário, entre outros". "Vale destacar que a vacina não protege contra os vírus Chikungunya e Zika", acrescentou.

Valor econômico, v. 16 , n. 3912, 12/12/2015. Empresas, p. B1