BC não vê reação do crédito em 2016

Eduardo Campos e Edna Simão 

23/12/2015

O mercado de crédito vai fechar o ano com o menor crescimento já registrado na série histórica do Banco Central (BC), que tem início em 2007, e não se espera retomada em 2016.

O BC estima que a carteira de crédito do sistema financeiro cresça 7% em 2015, ante projeção anterior de 9%. No começo do ano, a previsão chegou a ser de alta de 12%. Para 2016, a primeira previsão foi feita nesta ontem e é de nova expansão de 7%.

Para os analistas da Rosenberg Associados, a situação é crítica. "Considerando-se as concessões de crédito com recursos livres de janeiro a novembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, temos uma queda de 17,4% em termos reais. Nas concessões com recursos direcionados, a queda é ainda mais expressiva, 47,3%", destacam em relatório. "É um dos muitos números que confirmam o encolhimento do mercado de crédito para o qual temos alertado e que deve se intensificar adicionalmente no próximo ano, com a sinalização da autoridade monetária de que deverá voltar a elevar a taxa Selic a partir de janeiro."

As projeções do BC apontam crescimento de 10% do crédito direcionado neste ano e de 9% em 2016. O crédito livre ganha um pouco de tração, avançando 5% no ano que vem após projeção de 4% em 2015. Para dar um parâmetro de quão forte é a desaceleração do crédito direcionado, em 2014 a modalidade tinha avançado 24%.

Quem puxa a desaceleração no direcionado é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que mostrou o menor crescimento de sua carteira desde 2007, início da série histórica. Em 12 meses até novembro, o avanço foi de 8,8%. Em 2009, a carteira chegou a crescer em ritmo próximo a 50%. O banco de fomento representa cerca de 20% do crédito no país.

O desempenho do mercado de crédito só não foi mais sofrível em 2015 em função da atuação dos bancos públicos, que cresceram acima da média do mercado e quase dez vezes mais que os bancos privados nacionais. As instituições públicas concentraram modalidades que seguem com desempenho acima da média do mercado, como financiamento imobiliário, com alta de 17,1% em 12 meses, e consignado, com avanço de 9,4%.

Em 12 meses até novembro, o estoque de crédito dos bancos públicos subiu 11,4%, totalizando R$ 1,769 trilhão. No mesmo período, os privados nacionais mostraram expansão de só 1,2%, a R$ 946,898 bilhões. Os privados estrangeiros tiveram desempenho melhor, com crescimento de 6,6% da carteira, que soma R$ 460,464 bilhões.

Essa dinâmica deve se manter em 2016, conforme o BC estima alta de 9% na carteira dos bancos públicos, vindo de 10% previstos para este ano - que seria o menor crescimento desde 2001. Os privados nacionais devem crescer 3% em 2016, depois do avanço estimado de apenas 1% em 2015 - o pior desempenho desde 1998, quando a carteira dessas instituições encolheu 6,3%. Tal estimativa contempla alguma reação em dezembro, já que no acumulado até novembro a carteira dessas instituições caiu 0,7%.

Os bancos estrangeiros devem manter o ritmo, com alta de 7% em 2016, após 6% em 2015.

O encolhimento do mercado capta o ambiente recessivo e uma forte elevação dos juros. A taxa média do sistema recuou em novembro para 30,4% ao ano, ante 30,5% de outubro, mas ainda ronda as máximas históricas. Os juros nas operações com recursos livres foi recorde para pessoas físicas, em 64,6%, e para pessoas jurídicas, em 30,2% ao ano.

No caso das pessoas físicas, modalidades como cartão de crédito e cheque especial acabam contaminando a média. Apesar do baixo volume em termos de estoque, o avanço dessas taxas em 12 meses foi astronômico. Os juros do rotativo do cartão subiram 87,5 pontos e fecharam novembro em 415,3% ao ano. No cheque especial, a alta foi ainda maior, de 93 pontos, para 284,8% - a maior taxa desde maio de 1995.

Valor econômico, v. 16 , n. 3910, 23/12/2015. Finanças, p. C1