Título: Dilma cobra apoio de aliados
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 30/08/2011, Economia, p. 11

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No mesmo dia em que o governo anuncia aumento do ajuste fiscal contra a crise, a presidente exorta líderes do Congresso a bloquearem projetos que elevam gastos.

No dia em que foi anunciado o aumento da meta de superavit primário, a presidente Dilma Rousseff pediu ontem aos dirigentes de partidos e aos líderes aliados no Congresso que "coloquem o pé no freio" nos projetos que aumentam os gastos públicos. Dilma defendeu as medidas como um cuidado a ser tomado diante da crise financeira internacional e declarou que o Brasil tem condições de enfrentar as turbulências, mas destacou que é preciso "responsabilidade para não desperdiçarmos o bom momento" do país. Para a presidente, o Congresso precisa saber como encarar o momento de instabilidade. "A crise vai ser combatida com crescimento e distribuição de renda", alertou.

Dilma anunciou aos aliados o aumento na meta de superavit primário em R$ 10 bilhões e demonstrou preocupação com as votações da Emenda 29, que define os percentuais de gastos da União, Estados e Municípios com a Saúde, e da PEC 300, que equipara os salários de policiais militares e bombeiros de todo o país aos vencimentos pagos aos mesmos profissionais no Distrito Federal. Para a chefe do Executivo, os parlamentares precisam dar sua cota de sacrifício nesse momento.

Ela disse ainda que é fundamental o envolvimento de todos os setores no debate dos projetos em tramitação no Congresso. No caso da Emenda 29, Dilma defendeu que os governadores também assumam responsabilidades na tramitação do projeto. O vice-presidente Michel Temer propôs ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), uma reunião com os chefes dos Executivos estaduais para discutir os projetos. Como eles não têm como arcar com custos, o receio é de que os governadores acabem batendo na porta do Tesouro Nacional em busca de socorro, algo que Dilma não quer.

Colchão A presidente lembrou que a crise atual é um desdobramento da paralisia que assombrou o mundo em 2008, mas com características diferentes. Apesar de o Brasil estar com mais reservas do que possuía há três anos, Dilma avisou que os desperdícios obrigariam o governo a gastar esse capital, queimando o colchão fiscal que o país acumulou nos últimos anos. "O preço das commodities está em queda, o que acabará afetando o faturamento das empresas. Esse cenário provocará, consequentemente, uma redução na arrecadação do governo federal", disse a presidente, segundo relato de um dos presentes.

A presidente e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, alegaram que o aumento da meta de superavit primário permite, a longo prazo, uma redução na taxa de juros. "Dilma e Mantega não querem interferir na autonomia do Banco Central", disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP). Além dos alertas quanto ao aumento dos gastos, a presidente também sinalizou o encaminhamento de outros projetos ao Congresso, como a desoneração da folha de pagamento e medidas pontuais de reforma tributária, que auxiliarão o governo a enfrentar o momento adverso.