Correio braziliense, n. 19121, 02/10/2015. Brasil, p. 6

Senador Cristovam Buarque visita crianças em bairro pernambucano de Canaã

Em fevereiro de 2005, o senador Cristovam Buarque viajou ao agreste pernambucano para conhecer a realidade das crianças que aparecem em uma foto histórica ao lado do então presidente Lula. Dez anos depois, ele voltou. Pouco mudou

 

 Diego Ponce de Leon

 

Ricardo Stuckert

As crianças com quem Lula se encontrou não conseguiram superar a realidade daquela época, apesar dos programas sociais desenvolvidos pelo petista


Ao se abaixar para encarar crianças do outro lado da cerca de arame farpado, o então presidente Lula talvez não imaginasse que aquele se tornaria um dos mais expressivos registros de seu governo. Diante do chefe do Executivo, crianças entre 6 e 7 anos. Algumas sorriem, outras esboçam um olhar desolado. A pobreza do cenário retratado (Caruaru, PE) se revela axiomática. Dez anos depois, a situação permanece congênere.

O impacto visual daquela imagem de fevereiro de 2005 motivou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) a visitar, poucos dias depois da publicação da foto, o bairro caruarense de Canaã, no agreste pernambucano. “Queria saber quem eram aquelas pessoas. Como se chamavam? Como viviam? Sob quais condições?”, recorda o senador, em entrevista ao Correio.

 

As respostas revelaram um panorama indigente. Desemprego, esgoto a céu aberto, camas improvisadas pelo chão em casas esfaceladas. Nenhuma das crianças era capaz de ler ou escrever. Frequentavam a escola por conta da merenda oferecida. Todos dependiam do programa Bolsa Família, implementado no ano anterior. “Ao chegar, percebo que aquele quadro não era responsabilidade do presidente; afinal, ele tinha assumido o cargo pouco antes. Mas, se permanecesse daquela maneira pelos anos seguintes, ele teria que responder por isso”, observa Cristovam.

A viagem resultou em uma carta aberta escrita pelo senador e endereçada ao presidente. No texto, Cristovam relata em detalhes a precariedade da cidade, traça um perfil de cada uma daquelas crianças que compõem a foto e lista ações que julga fundamentais para a reversão daquele horizonte.

Passada uma década, o senador retornou a Canaã. Pouco mudou. Com o auxílio de dois assistentes sociais, quase todas as crianças da foto foram encontradas. “A figura mais emblemática desse registro é a menina. Aos 14 anos, ela largou a escola. Aos 15, engravidou. Atualmente com 16 anos, cuida de um filho de 1 ano e dois meses, Ângelo Miguel”, relata.

A jornada da menina Taciana se assemelha à dos demais garotos, hoje adolescentes. O irmão de Taciana, que se posicionou um pouco mais atrás do grupo fotografado e, portanto, não aparece na imagem, foi assassinado. Nenhum dos meninos terminou o ensino fundamental. A maioria já teve filhos. “Todos são analfabetos funcionais. Ainda não sabem ler”, atesta Cristovam.