Senador critica Volpon e Tombini reitera que taxa básica pode subir

Alex Ribeiro e Eduardo Campos 

16/12/2015

O diretor de assuntos internacionais do Banco Central (BC), Tony Volpon, foi criticado ontem por um senador da oposição e outro da base do governo durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE). Os ataques ocorreram no depoimento trimestral de prestação de contas no Senado do presidente do BC, Alexandre Tombini, que foi morno nos temas tradicionais de política monetária e regulação financeira - ele apenas reiterou as indicações recentes de que poderá voltar a subir os juros.

O senador José Serra (PSDB-SP) cobrou Volpon, sem cita-lo diretamente, por ter falado a investidores em evento em Nova York, provocando, segundo ele, pressão de alta no mercado de juros.

"Ele fala demais", disse Serra, exibindo um gráfico que mostrava alta na curva de juros futuros entre os dias 6 e 9 de novembro. Para o senador, o pronunciamento do diretor, no dia 6 de novembro, teria provocado uma alta de R$ 1,5 bilhão no custo de carregamento da dívida pública.

Antes disso, quando fazia questionamentos a Tombini, Serra já tinha dito que "um integrante do Copom é muito especialista em tagarelice e em exibicionismo".

Embora Serra não tenha especificado o seu alvo, Volpon fez, em 6 de novembro, uma palestra a investidores em Nova York.

Já no fim da sessão, o senador da base governista Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Volpon "está expondo o BC em demasia". "Ele deveria ter uma postura de recato", disse o senador, um crítico dos ajustes fiscal e monetário.

"Sempre fiz a defesa dessa diretoria de funcionários públicos, mas acho que a última indicação do doutor Tony Volpon saiu um pouco da curva", disse o senador. Volpon era economista do mercado financeiro antes de assumir cargo no BC e teve seu nome aprovado pelo próprio Senado.

Tombini defendeu Volpon e disse que, desde 2012, o Copom divulga como votou cada um dos membros e, por isso, é natural que eles tenham voz própria para explicar os seus pontos de vista. "Isso permitiu que o organismo não seja um bloco monolítico", disse. "Todos explicitam seu voto."

O presidente disse que a regra de governança do BC determina que os pronunciamentos sejam públicos e, no caso de eventos fechados, que o discurso seja divulgado imediatamente. Isso ocorreu no caso do pronunciamento de Volpon, em 6 de novembro, com ressalvas de que se tratava de um pronunciamento pessoal.

Tombini também ponderou que a comunicação é uma das ferramentas do BC para influenciar os juros futuros e coordenar as expectativas de mercado. É comum os membros de outros comitês de política monetária, como o Federal Reserve (Fed), fazerem pronunciamento em caráter pessoal. No caso do Fed, alguns membros têm mais peso do que outros para influenciar os juros.

"Vai falar com investidores? Põe o paper no site do BC antes de falar com o mercado. Essa é a orientação", disse o presidente, lembrando que, durante sua participação na CAE, ele mesmo também tinha mandado informações para os investidores e para o mercado. "Nossa comunicação não é só ata e Relatório de Inflação e a determinação é que se faça para todo mundo e de forma simultânea", disse Tombini.

Procurada para saber se Volpon gostaria de manifestar após as críticas, a assessoria do BC disse que a questão foi respondida pelo presidente na CAE e que não havia mais o que falar.

As rusgas entre Serra e Volpon não são novas. Em julho, depois que o diretor falou que votaria por alta de juros até que as projeções de inflação do BC estivessem na meta, Serra e outros senadores acusaram o diretor de antecipação de seu voto. Volpon argumentou dizendo que defendia uma regra de atuação de política monetária conhecida como "inflation forecast targeting", que é subir os juros até que as projeções indiquem inflação na meta.

Em função da celeuma, Volpon não votou na reunião de julho do Copom, quando a Selic subiu em meio ponto para 14,25% ao ano.

Serra teve outra discussão com Tombini, envolvendo o mercado de câmbio. Tombini dizia, respondendo a uma pergunta de Serra, que o BC não visa controle sobre as taxas de câmbio, pois o regime do país é de câmbio flutuante, quando o senador interveio e disse que o BC intervém, sim, no mercado.

Num diálogo de frases curtas raro nas audiências da CAE, Tombini disse que as atuações do BC visam à estabilidade financeira. Serra insistiu, citando o programa de swaps cambiais, e Tombini começou a explicar que ele permitiria "transitar em um regime de câmbio flutuante". Serra rebateu de novo, dizendo que a resposta de Tombini era um "eufemismo" para controle da taxa de câmbio.

Tombini argumentou mais uma vez que não era controle cambial, tanto que, assinalou, o dólar subiu 30%. Serra voltou à carga, dizendo ser evidente que, se o BC não atuasse, a desvalorização seria ainda maior.

O discurso inicial do presidente do BC foi uma adaptação quase literal do que havia dito em almoço na Febraban no dia 10.

"O Banco Central adotará as medidas necessárias para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação em 2016, circunscrevendo a inflação aos limites de tolerância estabelecidos pelo CMN, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017", disse Tombini.

Valor econômico, v. 16 , n. 3905, 16/12/2015. Finanças, p. C3