O Estado de São Paulo, n. 44534, 22/09/2015. Política, p. A5

PF prende empreiteiro e novo "operador" do PMDB

 

A Polícia Federal deflagrou ontem a 19.ª fase da Operação Lava Jato - batizada de Nessun Dorma (Ninguém durma, em italiano) - e cumpriu mandados de prisão contra João Augusto Rezende Henriques, apontado como outro lobista do PMDB no esquema de corrupção na Petrobrás, e o executivo José Antunes Sobrinho, sócio da empreiteira Engevix. Ambos já são réus em ações penais da Lava Jato.

Antunes Sobrinho, preso preventivamente, é acusado de pagar propina no setor elétrico, nas obras da Usina de Angra 3. Henriques, preso temporariamente, é acusado de envolvimento com propinas de US$ 31 milhões em contratos da diretoria Internacional, na área naval. Os dois foram levados na tarde de ontem para Curitiba. Ao todo, foram cumpridos 11 mandados judiciais em Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro.

A Justiça Federal decretou o sequestro de até R$ 40 milhões de Henriques e de uma de suas empresas, a Trend Empreendimentos, pela qual teria sido lavado dinheiro. O juiz Sérgio Moro acolheu pedido do Ministério Público Federal, que atribui a Henriques o papel de operador de uma propina de US$ 10,8 milhões para o PMDB em 2009.

As investigações indicam que Henriques passou a atuar como lobista na Diretoria de Internacional da Petrobrás durante a gestão de Jorge Luiz Zelada (2008-20012), que sucedeu Nestor Cerveró. Zelada e Cerveró cumprem prisão preventiva na Lava Jato. A Diretoria Internacional era considerada cota do PMDB na estatal.

Para pedir a prisão temporária de Henriques, a Lava Jato considerou os indícios de recebimento de propina em contrato de navio-sonda Titanium Explorer, de US$ 1,8 bilhão, assinado em 2009. Henriques é o segundo acusado apontado como lobista do PMDB preso na Lava Jato. Em novembro de 2014, na 7.ª fase da operação, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, foi detido preventivamente.

Segundo denúncia apresentada contra Zelada e Henriques e outros quatro investigados na Lava Jato, no início de agosto, a propina de US$ 31 milhões foi dividida em dois contratos, no valor de US$ 15,5 milhões, cada. No entanto, brigas societárias teriam levado à redução do montante acertado para US$ 20.8 milhões - sendo que US$ 10.8 milhões teria sido a cota final do PMDB, de acordo com o Ministério Público Federal.

"O pagamento de vantagem indevida destinada ao partido PMDB ocorreu por intermédio do lobista João Augusto Rezende Henriques mediante um segundo contrato de Comission Agreement também no valor de U$ 15,5 milhões,que foi assinado na mesmo ano do primeiro, entre a sociedade Valcncia Drilling Corporation (Marshall Islands), empresa subsidiária do Grupo TMT e uma offshore indicada por João Augusto Rezende Henriques", aponta a Procuradoria.

Moro comparou o poderio aquisitivo de João Henriques ao de outros investigados da Lava Jato e citou o doleiro Alberto Youssef, Mário Goes e Milton Pascowitch, além de Fernando Baiano.

Eletronuclear. José Antunes Sobrinho é suspeito de ter pago propinas sobre contratos da empreiteira Engevix com a Eletronuclear que somaram R$ 140 milhões, entre 2011 e 2013.

Os valores teriam sido pagos para a Aratec Engenharia, empresa controlada pelo ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, que está preso em uma base militar em Curitiba. / Fausto Macedo, RICARDO BRANDT, JULIA AFFONSO e ANDREZA MATAIS