Dilma reconhece erro em políticas do primeiro mandato e reavalia gasto social

 

O Estado de São Paulo, n. 44520, 08/09/2015. Política, p. A4

 

A presidente Dilma Rousseff admitiu, em vídeo divulgado neste domingo pelas redes sociais, que o governo vai reavaliar investimentos em programas sociais e os gastos para garantir emprego e renda no País. Ao dizer que “é possível” que o governo tenha cometido erros, Dilma reconheceu o esgotamento de políticas adotadas no primeiro mandato e defendidas na campanha eleitoral e não descartou o uso de “remédios amargos”, mas “indispensáveis”.

A gravação foi divulgada pelo Planalto logo após o desfile do Dia da Independência na Esplanada dos Ministérios, palco de manifestações contrárias e favoráveis ao governo. A presidente não fez pronunciamento em rede nacional, a exemplo do que ocorreu no Primeiro de Maio. A última cadeia nacional de rádio e TV foi convocada no Dia Internacional da Mulher, quando Dilma foi alvo de panelaço.

No vídeo deste domingo, a presidente afirmou: “As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais”. Na campanha, Dilma defendeu sua política de geração de emprego e renda e acusou adversários de adotarem políticas contra os trabalhadores. “Agora, temos de reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas.”

No vídeo, Dilma também disse que, “se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente”. A presidente afirmou que “as dificuldades são nossas e são superáveis”, embora tenha afirmado que os problemas “também vieram lá de fora e ninguém que seja honesto pode negar isso”. “O que eu quero dizer, com toda a franqueza, é que estamos enfrentando os desafios, essas dificuldades, e que vamos fazer essa travessia.”

Dilma disse que não vai “abrir mão da alma e do caráter” do governo. “Me sinto preparada para conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de crescimento, ampliando as oportunidades para nosso povo subir na vida, com mais e melhores empregos”, afirmou.

Pouco antes da divulgação do vídeo, Dilma foi alvo de vaias no desfile da Independência. Para monitorar o público, estimado em 25 mil pela Polícia Militar, o esquema de segurança instalou um muro de placas de aço de 2.200 m de extensão. O cercado foi pichado com frases contra o governo e foi chamado de “muro da vergonha”. Nos anos anteriores, o cercado era menor.

 

A presidente Dilma Rousseff participa em carro aberto, o Rolls-Royce presidencial, do Desfile Cívico em comemoração ao Dia da Independência, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília

A presidente Dilma Rousseff participa em carro aberto, o Rolls-Royce presidencial, do Desfile Cívico em comemoração ao Dia da Independência, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília

Palanque. No palanque, os ministros petistas eram maioria ao lado de Dilma. Estavam lá os dois alvos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal – Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social) –, mas só o último quis falar com os jornalistas.

Do PMDB, que vive uma crise na relação com o PT, estavam o vice-presidente Michel Temer e o titular da Pesca, Helder Barbalho. Os outros cinco ministros do partido não foram ao evento.

No começo e no fim do desfile, Dilma foi vaiada por setores das arquibancadas. A blindagem à presidente gerou críticas. O evento de ontem custou R$ 830 mil, inferior ao R$ 1,1 milhão gasto no ano passado. Três mil homens das polícias e das Forças Armadas atuaram na segurança. O ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou que não há nada de errado em organizar a cerimônia “para que se tenha dignidade”. / BEATRIZ BULLA, CARLA ARAÚJO, TÂNIA MONTEIRO, ANDRÉ BORGES, GUSTAVO PORTO e LEONENCIO NOSSA