BC enfrenta pressão por usar reservas

 

Adriana Fernandes

O Estado de São Paulo, n. 44536, 24/09/2015. Economia, p. B3

 

O Banco Central aumentou a artilharia sobre o câmbio para manter irrigada a liquidez do mercado, mas acabou elevando a pressão por uma intervenção mais forte para conter a disparada do dólar.

Há investidores que querem comprar dólares e não encontram vendedores. Por isso, muitos no governo entendem que a intervenção cambial está tímida e que o BC precisa quebrar o tabu que se criou em torno das reservas e usá-las mais fortemente. Mesmo porque, as reservas foram reforçadas nos últimos anos - a um custo alto - com a justificativa do governo de que era necessário um seguro para momentos de forte turbulência no mercado.

Fontes da área econômica avaliaram ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que a estratégia de ontem do BC teve como objetivo oferecer hedge (proteção) e reduzir a pressão sobre as operações em dólar. Segundo as fontes do governo, foram oferecidos contratos de swap com vencimento longo (prazo de um ano), para investidores que precisam ou querem receber a variação do câmbio nesse prazo. Já as operações de linha de dólares foram feitas para manter irrigada a liquidez do sistema.

Com o caixa recheado por conta do recebimento de R$ 81,6 bilhões do lucro do BC e os leilões de venda, maiores do que os regastes, no primeiro semestre, o Tesouro pode aproveitar para fazer uma sequência de leilões de peso de recompra de papéis em vários vencimentos para derrubar as taxas. Essa possibilidade se abre em um mercado onde as taxas são pressionadas por aqueles que querem vender os títulos do governo e não encontram compradores.

Por isso, com um leilão de títulos mais expressivo, ao redor de R$ 10 bilhões, por exemplo, as taxas poderiam ceder mais expressivamente. E o caixa do Tesouro garante poder de fogo para uma atuação mais forte com as recompras de papéis.

Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a volatilidade do câmbio vai se esvair quando algumas questões, como a votação do Orçamento,forem equacionadas. Segundo ele, o efeito das medidas tomadas no início do ano ainda será visto. "Isso tem limitado a capacidade de investimento e até a capacidade de arrecadação, mas tenho convicção de que, vencidas as incertezas, a capacidade de recuperação da economia será rápida."