Título: Liderança do governo no colo de Pimentel
Autor: Jeronimo, Josie; Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 09/09/2011, Política, p. 4

PMDB e PT travam guerra na base aliada pelo posto de representante do Palácio do Planalto no parlamento. Nos bastidores, nomeação do petista é dada como certa

A presidente Dilma Rousseff deve indicar na próxima segunda-feira o senador José Pimentel (PT-CE) como novo líder do governo no Congresso. O anúncio trará indisposição com o PMDB, que ainda não desistiu oficialmente do posto. O próprio Pimentel chegou a negar, na semana passada, pretensão de assumir o cargo, para evitar confronto com os peemedebistas. Desde a saída de Mendes Ribeiro (PMDB-RS) para o Ministério da Agricultura, a Liderança do Governo no Congresso está vaga. Embora a matemática mais comum dita nos corredores das duas Casas envolva a troca de um peemedebista por outro nome do partido, nos bastidores o debate é mais complexo.

Quando Ribeiro foi escolhido líder, ele e Pimentel firmaram acordo, com o aval da presidente, dando ao senador petista o cargo em caso de vacância. Com a saída do agora ministro, o PMDB decidiu pressionar pela manutenção da cota do partido na liderança e indicou Marcelo Castro (PI). A indicação para o posto, no entanto, é prerrogativa do Executivo e Dilma, afirmam aliados, teria preferência por Pimentel. A nomeação estaria acertada para a segunda-feira

Nas disputas internas do PT no início da legislatura, o ex-ministro da Previdência foi preterido na escolha pelo petista que ocuparia a Vice-Presidência do Senado e o posto de líder na Casa, que ficaram com Marta Suplicy (SP) e Humberto Costa (PE), respectivamente. Para conter a insatisfação de Pimentel, a cúpula do partido prometeu compensá-lo no futuro.

Enquanto aguarda a indicação da presidente, Pimentel evita aumentar a fervura da discussão. "Cabe a ela (Dilma) decidir, mas o acordo é que fique com o PMDB. Somos 594 congressistas, tem um grupo grande para definir. É a própria dinâmica da Casa", desconversa.

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), avalia que o nome do petista ganhou força nos últimos dias. Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), classificou a nomeação de Pimentel como "possibilidade concreta". Mesmo assim, Raupp ainda defende a manutenção do posto pelo PMDB. "Parece que há um compromisso entre o Pimentel e o Mendes Ribeiro, e a presidente analisa. Como presidente do partido, gostaria de ver um cargo do PMDB ocupado por outro peemedebista", pontua Raupp.

Revezamento Castro afirma que seu nome reforça o equilíbrio da base, mas admite que a proximidade de Dilma com Pimentel pode interferir na decisão da presidente. "Há um ressentimento dos partidos da base em relação ao Planalto pelo fato de o PT ter prevalecido na aliança. Seria um desprestígio não colocar o PMDB na liderança. José Pimentel é o vice-líder e conhece melhor a presidenta, isso pesa. Nos encontramos umas poucas vezes, sempre em ocasiões formais, falta uma ligação mais próxima com a presidenta", resume.

O revezamento entre PT e PMDB na liderança do governo no Congresso nem sempre respeita o critério da substituição partidária. Em 2009, o PT brigou para emplacar a então senadora Ideli Salvatti (SC) no posto, apesar de a vaga ter sido aberta pela saída de uma peemedebista. O partido tinha a liderança quando Roseana Sarney deixou o Congresso para assumir o governo do Maranhão. O nome de Raupp foi indicado, para que o cargo continuasse com o PMDB, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a escolha por Ideli, desagradando os peemedebistas.