Fraude com recursos do Postalis é alvo de ação da Polícia Federal

André Guilherme Vieira, Letícia Casado e Ana Paula Ragazzi 

18/12/2015

A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Positus, que apura fraudes na gestão de recursos do Postalis, o fundo de pensão dos Correios, e que podem ter causado prejuízo de R$ 180 milhões ao fundo. O esquema foi descoberto em 2012 pela Finra, entidade autorreguladora do mercado dos EUA. As operações também são alvo de processo administrativo sancionador aberto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

"O Postalis aportou R$ 371 milhões em dois fundos de investimento constituídos no Brasil. Só que os recursos foram remetidos aos EUA para que lá fossem feitos investimentos especialmente em títulos da dívida pública brasileira. Mas os gestores das corretoras não seguiam as regras definidas em contrato e aplicaram em papéis de balcão do mercado de capitais americano", disse o delegado Alexandre Gonçalves.

Em fevereiro de 2010, a Finra informou à SEC (comissão de valores mobiliários dos EUA) e à CVM que ao fazer uma inspeção de rotina em uma de suas corretoras-membro, a Latam Investments, identificou operações suspeitas envolvendo dois fundos de investimentos constituídos no Brasil. O "Real Sovereign" e o "Sovereign II" tinham o Postalis como cotista exclusivo, estavam sob gestão da Atlântica Administradora de Recursos, com escritório em Miami, e eram administrados pelo BNY Mellon.

O principal alvo da operação foi Fabrizio Neves, ex-gestor da Atlântica Administração de Recursos. A Justiça decretou sua prisão preventiva e ele entrou na lista vermelha de procurados pela Interpol. Neves mora nos EUA, pediu passaporte italiano em Miami e, há meses, viajou para a Espanha. Apontado como idealizador do esquema, ele ainda não foi localizado.

Neves e outras seis pessoas, incluindo o ex-diretor financeiro do Postalis, Adilson Florence, e Alexej Predtechensky, que presidiu o Postalis de 2006 a 2012, são suspeitos de envolvimento no esquema que apura crimes como gestão fraudulenta, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.

Neves era sócio da Atlântica, vice-presidente de renda fixa da Latam e acionista minoritário da corretora. Também tinha ligação, aponta o processo, com uma "offshore" chamada Spectra. Segundo a Finra, parte dos recursos que saíram dos fundos nas operações fraudulentas ingressaram na Spectra, que tinha como beneficiário Predtechensky. A Finra identificou que Latam e Atlântica apresentaram versões diferentes de documentos que embasaram as operações.

A fraude ocorria de duas formas, disse o delegado: "Havia supervalorização não justificada de títulos. A corretora americana administrada pelos brasileiros investigados adquiria papel no mercado de capitais americano e no dia seguinte vendia para empresas com sede em paraísos fiscais controladas por eles com um valor de 20% a 30% maior do que adquirido."

Gonçalves disse que a etapa seguinte consistia em vender esses papéis aos fundos do Postalis por um valor ainda maior. "Há operações no mercado de capitais que em dois dias tiveram valorização de quase 60%, o que obviamente acarretou prejuízo que até agora está em torno de R$ 180 milhões."

Segundo a PF, o dinheiro foi desviado para "offshores" estabelecidas nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal que não mantém acordo de cooperação com o Brasil.

Valor econômico, v. 16 , n. 3907, 18/12/2015. Finanças, p. C8