Disputa interna do PSDB faz Marta apostar em acordo com tucanos

Cristiane Agostine 

01/02/2016

Ex-petista, a senadora e pré-candidata do PMDB à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, tem feito acenos ao PSDB com vistas a um eventual acordo com o partido no segundo turno na disputa municipal. Marta mantém proximidade com o senador José Serra (PSDB-SP) e tenta buscar o apoio do grupo político do tucano já no primeiro turno caso o vereador Andrea Matarazzo, apoiado por Serra, perca a prévia do PSDB na capital.

Ao mesmo tempo, Serra e seus aliados tucanos veem na aproximação com Marta uma oportunidade de construir um acordo com o PMDB nacional na disputa pela Presidência, em 2018. O senador poderia se candidatar pelo partido caso não consiga espaço dentro do PSDB para a eleição presidencial. Serra teria incentivado a senadora a migrar do PT para o PMDB, segundo dirigentes petistas que acompanharam a desfiliação da senadora.

Marta tem falado publicamente na busca por um acordo com os tucanos na capital. Em palestra na noite de quinta-feira, na Casa do Saber, em São Paulo, afirmou que está mais próxima do PSDB do que do PT e que quer distância de petistas se tiver que negociar apoio no segundo turno. No evento, a pré-candidata disse que o respaldo do ex-governador tucano Mário Covas, morto, em 2001, foi essencial para sua vitória na disputa pela prefeitura paulistana, em 2000. No mesmo dia, a senadora participou da posse do novo secretário estadual de Educação de São Paulo, José Roberto Nalini, no Palácio dos Bandeirantes, em cerimônia com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

A senadora vê na disputa interna do PSDB uma forma de conquistar parte dos tucanos já no primeiro turno, especialmente se o vitorioso for o candidato apoiado por Alckmin, João Doria Junior. Aliados de Serra têm elogiado a articulação política da senadora e sinalizam com um apoio informal se Matarazzo não for o nome do PSDB na disputa. Os tucanos devem escolher o candidato em prévias marcadas para o fim de fevereiro e, se for necessário, com segundo turno em março.

Marta intensificou sua pré-campanha desde o início deste ano e tem percorrido a periferia paulistana, seu principal reduto eleitoral - e do PT. Na semana passada, a senadora visitou postos de saúde e andou de ônibus, acompanhada por assessores que gravavam depoimentos com críticas à gestão do prefeito e pré-candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT).

A pré-campanha de Marta tem enfrentado dificuldades para se viabilizar eleitoralmente, com problemas como a capilaridade do PMDB em São Paulo e a atração de partidos para a chapa. Na capital, a legenda tem quatro vereadores, ante 11 parlamentares do PSDB e 10 do PT. Na Assembleia, dos cinco deputados estaduais, apenas um tem atuação voltada exclusivamente para a capital. Na Câmara, o partido elegeu dois deputados pelo Estado; o PSDB tem 14 deputados e o PT, 10.

Dirigentes petistas apontam o risco de Marta repetir os problemas enfrentados pela outra ex-prefeita eleita pelo PT que também deixou a sigla, a deputada federal Luiza Erundina (PSB). Popular na periferia e com alta rejeição, assim como a senadora, Erundina enfrentou dificuldades sem a capilaridade e a estrutura partidária do PT e não conseguiu se viabilizar eleitoralmente quando tentou um novo mandato como prefeita, em 2000 e 2004.

Uma das principais apostas de aliança da campanha de Marta é o PSD, do ex-prefeito e ministro das Cidades, Gilberto Kassab, seu antigo desafeto político. A articulação tem sido mediada por Serra e seus interlocutores.

A equipe do prefeito e candidato à reeleição diz contar com PR, PCdoB, Pros e PDT. Interlocutores de Haddad dão como certa a migração do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita, do PMDB para o PDT, para compor a chapa do petista como vice. No entanto Chalita tem dito que ficará no PMDB e poderá ser um entrave dentro do partido à candidatura de Marta.

Haddad já tem sondado marqueteiros para sua campanha. Entre eles estão Luiz González, que cuidou de campanhas tucanas como a de Serra, Edson Barbosa, responsável pelo próximo programa do PT que irá ao ar, amanhã, e Sidônio Palmeira, que fez a campanha de Rui Costa (PT) na Bahia.

A candidatura do apresentador Celso Russomanno (PRB) dá como certo o apoio do PTB e vê avançarem as negociações com o PP, depois que o pré-candidato do partido, o apresentador José Luiz Datena, desistiu da disputa eleitoral.

Já o PSDB deve ficar com os partidos que apoiam Alckmin no Estado, como PSB, PV, PPS e DEM, caso João Doria Júnior seja o vencedor das prévias.

Valor econômico, v. 16 , n. 3934, 01/02/2016. Política, p. A8