Isadora Peron / Mateus Coutinho
O Estado de São Paulo, n. 44530, 18/09/2015. Política, p. A8
A presidente Dilma Rousseff fez nesta quinta-feira, 17, uma série de elogios ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante a cerimônia de sua recondução ao cargo realizada no Palácio do Planalto. No momento em que aumentam as movimentações pró-impeachment de Dilma no Congresso, a presidente aproveitou para cobrar de Janot uma atuação favorável à “estabilidade das instituições democráticas”.
Dilma fez discurso em cerimônia (Foto: AFP)
O procurador-geral já pediu a abertura de inquérito de diversos membros do PT, inclusive ministros de Dilma, como Edinho Silva (Comunicação Social). “Nesses tempos em que, por vezes, a luta política provoca calor, quando devia emitir luz, torna-se ainda mais relevante o papel da Procuradoria-Geral da República como defensora do primado da lei, da Justiça e da estabilidade das instituições democráticas”, disse. Sem citar nomes de seus adversários, a presidente voltou a adotar o discurso de que os políticos precisam “aceitar os veredictos das urnas”.
“Todos nós queremos um País em que a lei é o limite”, afirmou. E ressaltou que sua administração nunca utilizou o poder governamental “para bloquear ou obstaculizar investigações”. “Poucos governos na nossa história se dedicaram de maneira tão enérgica e metódica à construção de um ambiente político e legal propício ao combate da corrupção”, disse. Mesmo sem mencionar as investigações, Janot afirmou que a sociedade “está suficiente amadurecida para compreender que as instituições devem funcionar”. Ele voltou a dizer que fortaleceu o diálogo com as instituições em sua gestão e defendeu a importância de o Ministério Público se manter forte e autônomo. “É fundamental para defesa dos direitos dos cidadãos”, disse.
Lágrimas
Janot também destacou a “postura democrática” de Dilma, por ter aceitado indicar o nome escolhido pela categoria. Emocionado, ele chorou ao agradecer o apoio de procuradores e de sua família para permanecer à frente do Ministério Público por mais dois anos. “A força e apoio incondicional de todos vocês me estimulam a perseverar nos deveres que a Constituição e as leis nos impõem”, disse.
Apesar dos elogios, Dilma também fez questão de reiterar que seguiu a tradição de acolher o nome indicado pela categoria para ocupar o cargo, para não “partidarizar a escolha” e respeitar “a autonomia do Ministério Público”. “Adotei esse procedimento por entender que essa é a atitude correta a ser seguida pela presidente da República, porque é uma atitude impessoal, republicana e democrática”, disse.
Dilma afirmou que, pela primeira vez, o País assistiu à recuperação pelo Estado de “vultosos recursos desviados por agentes públicos e privados responsáveis por atos de corrupção”, referindo-se ao montante já devolvido aos cofres públicos pelos réus da Lava Jato. “Nunca se combateu a corrupção tão severamente. Assim tem sido e assim será, pois o compromisso do meu governo é não compactuar sob qualquer circunstância com ilícitos e malfeitos.”
O processo de recondução de Janot ao cargo foi marcado pela tensão causada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato, que atinge diversas autoridades políticas, inclusive o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mesmo assim, o nome do procurador-geral foi aprovado com o voto de 59 de 81 senadores.