Dilma diz que tentam usar crise para 'golpe'

 

José Maria Tomazela

O Estado de São Paulo, n. 44529, 17/09/2015. Política, p. A7

 

A presidente Dilma Rousseff classificou ontem, em Presidente Prudente (SP), como "versão moderna de golpe" o que apontou como uma tentativa de seus adversários de usar a crise para chegar ao poder. Num recado à oposição que tenta abrir processo de impeachment contra ela, Dilma disse que "qualquer forma de encurtar o caminho da rotatividade democrática é golpe, sim". "Principalmente quando esse caminho é feito só de atalhos questionáveis."

A presidente abordou o tema em entrevista à rádio Comercial AM, a mais popular da cidade, e durante a entrega de 2.342 moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Na rádio, ao comentar a perda do grau de investimento do Brasil, ela disse que isso aconteceu com outros países, como Estados Unidos, França, Itália e Espanha, que passaram por dificuldades e se recuperaram. "Todos os países que passaram por dificuldade, não vi nenhum propondo ruptura democrática como forma de sair da crise."

Na entrega das casas, Dilma dividiu a mesa com deputados aliados e líderes do Movimento dos Sem Terra (MST) e discursou para 10 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. "Há pessoas que não se conformam que o Brasil seja uma democracia sólida, com legitimidade dada pelo voto. A base da democracia é a legalidade." Quando grupos do MST puxaram o coro "não vai ter golpe", a presidente atacou a oposição, dizendo que ela aposta "no quanto pior, melhor". "Acham que o pior é melhor para eles, mas não olham que prejudica a população."

Ao falar sobre os esforços do governo para cortar despesas, sem se referir às propostas de aumento de impostos, ela disse que o País vive momentos de dificuldades e terá de "apertar o cinto", mas os programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, continuam. Um pouco antes, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, tinha anunciado a construção de mais 3 milhões de casa até 2018. "Todos os esforços que estamos fazendo para cortar despesas é para que as casas sejam contratadas e entregues. (O corte) não é para acabar com tudo, é para manter aquilo que é mais importante."

Segurança. Um forte esquema de segurança blindou a presidente durante o evento, realizado no Conjunto Habitacional João Domingos Netto. O local fica a seis quilômetros do centro, onde um grupo de 100 pessoas, segundo a PM, protestou inflando o boneco Pixuleco, uma caricatura do ex-presidente Lula vestido de presidiário. Houve ainda uma carreata pelas ruas da cidade.

No caminho até o evento, foram montadas barreiras policiais e a área foi isolada com tapumes metálicos, com acesso controlado. A prefeitura cadastrou as mais de três mil famílias e organizou comitivas de apoio a Dilma. A agente de saúde Claudineia Orbolato Batista esperou 11 anos pela casa. "Ganhei o terreno em 2004 e minha casa ficou pronta em abril do ano passado, mas não pude entrar porque outros núcleos não estavam prontos." Quando a solenidade começou, trabalhadores ainda plantavam grama nos terrenos.