Título: Nas mãos de Mantega
Autor: Martins, Victor; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 09/09/2011, Economia, p. 8

Depois de arriscar sua credibilidade com um surpreendente corte na taxa básica de juros (Selic), de 12,50% para 12% ano, o Banco Central agora precisa que o Ministério da Fazenda faça sua parte para não ser desmoralizado de vez. Técnicos da instituição entendem que a convergência da inflação para o centro da meta em 2012, de 4,5%, depende não apenas da piora da crise internacional, mas, principalmente, de um arrocho fiscal efetivo, com corte de gastos e não baseado em aumento das receitas. A autoridade monetária, apesar de esperar um cenário externo ruim, não prevê caos, mas uma crise prolongada devido às limitações de política monetária e fiscal dos países mais afetados. Lá fora não há mais onde cortar: nem nos juros nem nos gastos. Assim, sem um colapso à vista, a sorte do BC está nas mãos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e na política fiscal elaborada por ele.

Na ata, o BC deixou claro o quanto contará com a responsabilidade fiscal de Mantega para pôr a inflação na meta, mesmo com queda da Selic. Além do corte de R$ 50 bilhões no Orçamento e da economia adicional de R$ 10 bilhões para pagar os juros da dívida (superavit primário), espera a repetição do arrocho no ano que vem. Segundo o BC, se, de fato, o governo cumprir a meta de superavit em 2012, de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), o efeito para a política monetária será muito mais efetivo do que os 3,3% deste ano. Isso porque a economia fiscal será potencializada, pois ocorrerá em meio a uma economia em desaceleração.

Marcelo Gazzano, economista do Royal Bank of Scotland, ponderou que a instituição se arriscou demais ao apostar nessa estratégia. " O Copom acredita que vem uma grave crise por aí e quis se preparar para isso. Por isso, a queda de 0,5 ponto percentual dos juros na semana passada, apesar do modelo utilizado não dar aval a essa iniciativa. A demanda doméstica permanece aquecida, acima do potencial de oferta da economia, o mercado de trabalho continuará pressionando e os preços dos serviços serão impactados pela alta de 13,6% do salário mínimo", argumentou.

Para Jason Vieira, economista da Corretora Cruzeiro do Sul, em 2012, além do reajuste do salário mínimo, haverá o aumento do imposto sobre os cigarros, os dissídios coletivos e todo o efeito da indexação da economia, que afeta, principalmente, os preços administrados. O BC não pode ter subestimado isso", observou. (VM e VC)